Mais uma confusão infernal na Câmara dos Deputados. Desta vez, o motivo é o Projeto de Lei para endurecer o combate ao crime organizado. Enviado ao parlamento pelo governo federal, o conjunto de propostas foi modificado pelo deputado Guilherme Derrite, escolhido relator pelo presidente da Casa, Hugo Motta. Na verdade, o parlamentar desfigurou o texto original a tal ponto, que a bagaceira se instalou.

Derrite é o secretário de Segurança do governo de São Paulo. Ele se afastou do cargo temporariamente apenas para cumprir uma missão encomendada pela oposição ao governo Lula. Em 48 horas, apresentou quatro versões diferentes do conteúdo, um ineditismo em escala mundial. Mas o que é que está pegando mesmo?

São vários aspectos, mas um ponto sintetiza o absurdo. Um dos artigos inventados pelo relator praticamente tirava todos os poderes de investigação da Polícia Federal. Assim mesmo, sem qualquer ressalva. Estava escrito lá: para a PF investigar a ação de grupos e facções do crime organizado, somente com autorização dos governos estaduais.

E quem apoia isso? Os governadores da extrema direita que se apresentam como pré-candidatos a presidente. Os de sempre: Caiado, Zema e Tarcísio, além de Jorginho Mello e do matador carioca, Cláudio Castro. Se aprovada a ideia estapafúrdia, ao invés de combate, o país daria um grandioso apoio ao PCC e ao Comando Vermelho.

Parecia algo escandaloso, e era mesmo. Por isso, o relator teve de recuar do dispositivo que tornava a PF uma força de segurança decorativa. O texto – na quarta versão, reitero – seria votado nesta quarta-feira, mas foi adiado para a semana que vem. Esse atropelo todo decorre da chacina patrocinada pelo Estado do Rio de Janeiro.

Os governadores citados e a extrema direita na Câmara ainda pressionam pela ideia de classificar o crime organizado como “narcoterrorismo”. Trata-se de uma picaretagem com objetivos meramente eleitoreiros. A ideia abre caminho para intervenção estrangeira no Brasil – algo sob medida para os planos delirantes de Donald Trump.

Além da demagogia política, detonar a PF interessa a essa turma devido a outro dado muito especial: é a Polícia Federal que investiga a fundo a farra das emendas parlamentares. E as emendas se transformaram num tesouro para esses vagabundos que distribuem o dinheiro público para cabos eleitorais, sem controle de ninguém. 

As ideias delinquentes de Derrite, o capataz da turma, têm apoio daqueles alagoanos com mandato que se vendem como xerifões no combate à violência. Um bando de entusiastas da prática de tortura e do extermínio de pessoas nas quebradas miseráveis do país. Tudo isso, é claro, para pescar uns votinhos nas eleições em 2026. 

Tema crucial à sociedade, o debate sobre segurança pública acaba sempre sequestrado por interesses de uma corja de desqualificados. De novo, a história se repete.