Em texto anterior tratei de ideias em torno de uma reforma do nosso sistema eleitoral. Proposta de Emenda Constitucional aprovada na CCJ do Senado acaba com a reeleição, após mais de três décadas do atual modelo. Além disso, a escolha de todos os cargos, no Legislativo e no Executivo, nas três esferas, se dará em única data, a cada cinco anos. É uma mudança e tanto, sem dúvida. Mas pode vir mais novidade por aí.

Além de um novo desenho nos prazos e no tamanho dos mandatos, a forma de elegermos o parlamento no país também pode passar por uma profunda transformação. Nesse sentido, acabo de ler entrevista do deputado federal Domingos Neto, do PSD do Ceará. Ele é o relator de um projeto de lei que muda o modelo de votação.

Na verdade, o projeto é mais um desses que atravessam décadas no Congresso Nacional, com idas e vindas, sendo tratados como urgentes ou esquecidos nas gavetas – tudo a depender do clima político. De repente, uma ideia largada na Câmara ou no Senado há muitos invernos retorna, reconfigurada em novas circunstâncias.  

Neste caso, estamos falando do sistema de voto distrital misto, com lista fechada de candidatos e divisão dos colégios eleitorais em áreas específicas, os chamados distritos. O tema é debatido em Brasília desde que a cidade foi inaugurada por aquele presidente bossa-nova. Ao que parece, ganhou impulso no embalo contemporâneo.

Domingos Neto parte de um texto do ex-senador José Serra apresentado em 2017, que, por sua vez, bebe na fonte de ideias em pauta desde os anos de 1990. Segundo o deputado, o distrital acaba com o “puxador de voto”, o que elimina injustiças como os casos em que um candidato não se elege, mesmo com votação acima de muitos eleitos.

E como fica tudo isso diante da consagrada “polarização”? O que pensam a esquerda, o lulismo, a direita e o bolsonarismo? Segundo o relator, suas conversas com todos os lados indicam um consenso até entre inimigos mortais. Sendo assim, agora vamos.

Quer dizer, mais ou menos. Há vozes insatisfeitas, sobretudo entre os que apostam exatamente nos tais puxadores de voto. São os donos de partidos que prospectam esses fenômenos para garantir mandatos, poder e milhões de reais do fundo partidário.

Seja como for, a Câmara dos Deputados deu sinal verde para que o relator apresente seu texto final em breve. O invertebrado presidente da Casa, Hugo Motta, garante que chegou a hora de avançar na ideia. Será que a política vai melhorar? Aí é com sua crença.