Uma velha ideia, disfarçada de novidade, que envelhece rapidamente, que se renova, que vai e volta, num eterno retorno pela via da política. Assim: o principal tema da eleição será a segurança pública. Você já deve ter lido esse veredito umas trezentas vezes nas últimas semanas. Mas não apenas nas últimas semanas. O diagnóstico de terra arrasada nesse campo esteve em todas as eleições desde a redemocratização.

Uma das consequências da histeria coletiva diante de casos concretos de violência urbana é a ascensão de vigaristas na política. Uma enxurrada de elementos se apresenta como milagreiros e xerifões para resolver tudo, de uma hora para outra, à base do prendo e arrebento. Foi sempre assim. Sem novidade na patifaria generalizada.

Delegados marombados, de cara feia e remelexos histriônicos, nunca resolveram nada nessa área. Vale o mesmo para outros agentes oriundos do aparato repressor estatal que embarcam no arrivismo político. O plano de “inteligência”, com “ações estratégicas”, desses modelitos se resume em expressões como esta: “chumbo grosso”.

Foi o que afirmou, um dia desses, um de nossos representantes em Brasília – e que sabe tudo sobre esse padrão de “combate ao crime”. Como diria Sergio Moro, se o bandido tem uma metralhadora, a gente precisa ter duas metralhadoras. Um gênio. Como diriam deputadozinhos por aqui, o cidadão de bem tem o direito de mandar bala.

Secretário de Polícia Civil no Rio de Janeiro, o exterminador Felipe Cury já é o ídolo de meio mundo de meliantes com mandato eletivo no país. É o típico desqualificado que pensa com o cano de uma pistola e pretende se dar bem à base da força bruta. Tem gente em Alagoas que já pretende homenagear o sujeito após a chacina carioca.

Farejando sangue para turbinar a campanha eleitoral, a oposição ao governo Lula forçou a criação de uma CPI do Crime Organizado. Acreditar nas boas intenções desses senhores é abraçar uma ilusão – por inocência, oportunismo demagógico ou má-fé. A turma ficou um tanto frustrada por não emplacar o comando da CPI no Senado.

No parlamento, há um time de deputados e senadores saídos das polícias, das Forças Armadas e do Ministério Público. Com raras exceções, estão reunidos na bancada da bala. O único plano de trabalho que essas figuras dominam, reitero, é a força bruta.

A charanga dos defensores de chacina nas periferias brasileiras solta o berreiro. Quanto mais banho de sangue, mais demonstração de “competência”. Quanto mais decapitados, mais troféus para exibir nos palanques. De novo, uma tradição secular.

Não. Política de segurança não se confunde com operações de assassinatos em massa pelo Brasil afora, seja no Rio de Cláudio Castro (foto), seja nas Alagoas. O governador fluminense vive dias de êxtase, certo de que achou o atalho do voto rumo ao Senado. 

Nenhum chefe de polícia tem autorização para invadir áreas pobres para “cancelar CPFs” – como já vimos aqui em Alagoas, em diferentes épocas e governos. Quando o Estado apela a fórmulas clandestinas de atuação, matando a esmo, se iguala ao bandido.

Muitos dos que estão no Legislativo, nos âmbitos estadual e federal, reproduzem ideias e atos criminosos, embalados em discurso de justiceiro. A ostensiva presença desses depravados na vida pública brasileira é uma de nossas terríveis mazelas. Sinistro!