O governador Paulo Dantas (MDB) e o secretário de Segurança, Flávio Saraiva, estão na lista dos primeiros convidados para depor à CPI do Crime Organizado, instalada no Senado nesta terça-feira. Relator da comissão, o senador Alessandro Vieira explicou que resolveu convidar representantes dos estados que estão em situações opostas – os que têm os melhores indicadores de segurança e os mais inseguros.
Nas palavras do relator, Alagoas está no time dos “estados menos seguros, pelos indicadores oficiais”. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados em julho passado confirmam: aqui, o número de homicídios dolosos segue acima da média nacional. Já foi muito pior, é verdade, mas ainda estamos longe do ideal.
Ao lado de Alagoas entre os estados mais violentos estão Amapá, Bahia, Pernambuco e Ceará. Os governadores e os secretários foram inicialmente convidados. Caso não compareçam, serão alvos de convocação. Suspeito que Paulo Dantas não veja o convite com simpatia. Afinal, ninguém gosta de ser apontado como “exemplo negativo”.
A CPI do Senado será presidida por Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo. A escolha foi uma derrota para a oposição ao governo federal, que pretendia sambar no palanque eleitoreiro – como ocorre na CPMI do INSS. A extrema direita escalou Sergio Moro, Hamilton Mourão, Marcos do Val e Flávio Bolsonaro para causar na nova CPI.
E o que essa investigação parlamentar vai produzir para enfrentar as organizações criminosas, como Comando Vermelho e PCC? É lamentável, mas vem aí mais do mesmo. Ou seja, falatório, demagogia e politicagem serão as marcas dos “debates”. Com essa turma de senadores da direita bandida, quem terá muito a ganhar é a bandidagem.
O pedido para criar a CPI estava nas gavetas do Senado havia nove meses. Somente agora será instalada após a matança da polícia fluminense, que produziu 121 cadáveres. Mais uma vez, o Legislativo se move sob a pressão dos acontecimentos e da gritaria nas redes sociais. Um problema complexo não será enfrentado numa arena política.
Além de governadores e secretários estaduais de Segurança, serão ouvidos ministros do governo Lula, estudiosos do assunto e “jornalistas investigativos”, como disse o relator. Teremos muita papelada, sem dúvida. Quanto a soluções, aí ficaremos no plano das conjecturas e dos interesses particulares. De novo, tempo perdido.
Quanto a Alagoas, o que o governador e o secretário terão a contribuir? Não sabemos. O que parece óbvio, reitero, é o constrangimento de a motivação do convite ser algo negativo para a imagem dos gestores. Como estamos à beira de ano eleitoral, é alto o potencial de produção de material para campanhas. Isto sim é coisa típica de CPI.










