Elas, mulheres pretas, vieram de uma das periferias mais violentas da terra arrasada pelo expoente e naturalizado apartheid social, para participação no Seminário Nítorí, ‘As Margens das Histórias Negras, iniciativa do Instituto Raízes de Áfricas, parte integrante da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Todas se vestiram de preto. Muitas não sabiam ler. E estavam na 11ª Bienal Internacional do Livro, nas terras de Zumbi dos Palmares, em que o analfabetismo ainda grassa.
Tem com/raça.
Junto ao grupo de mulheres havia uma pré-adolescente de 11 anos, que falou baixinho em meu ouvido:- Tia eu não ‘seio’ ler’.
Um meteoro de frustração golpeou a alma desta ativista-professora.
-Como reeducar uma criança preta que até mesmo o direito básico à educação lhe é roubado. Criança não deveria ser prioridade número 1 do estado?
As mulheres vestiam preto,( algumas mães de filhos que se evadiram para o mundo do tráfico), em protesto ao Massacre do Rio de Janeiro e aos genocídios,cotidianos e socialmente, consentidos dos jovens pretos, pobres, invisíveis, nas’ invadidas’ periferias de Maceió.
-Quando crianças, o único crime que meus filhos cometiam era do ‘trabalho infantil.’
Nos expulsaram da beira da Lagoa, de onde tiramos o sustento e nos isolaram na parte alta da cidade, sem pensar em nossa sobrevivência.
O governo criou para as famílias, principalmente, jovens, becos sem saídas. Faltou oportunidades de estudo e de trabalho.
O silêncio se fez mudo, entre as pessoas que o ouviam. Outros depoimentos se sucederam.
-A polícia quando encontra a gente vem logo com ignorância. Só porque a gente mora na periferia e é preto não quer dizer que seja marginal.’- falou um homem negro.
E o silêncio mudo sufocou as palavras…
Como discutir racismo em um estado onde a desigualdade racial é gritante, o chicote cria silêncios imperiosos.
Por que tão poucos com tanto e tantos com tão pouco?
Uns herdeiros afortunados e outros da Escala 6x7,ou auxilios de governos para camuflar a miséria.
E antes que alguém comece com o bordão:’ Tá com pena leva pra casa!’, esta ativista já contra argumenta: ‘Quantos corpos pretos foram enfileirados e expostos na Av. Faria Lima, principal centro financeiro do PAÍS, ou teve bandido branco morto?
Teve?!
Enquanto isso, nas Alagoas dos milhões, para além do palco armado da festa branca na75ª Expoagro, no meio da população pobre, preta e periférica, tudo vira gado.
E ponto final!










