Na área da segurança pública, Alagoas tem muita história para contar. Ao longo de décadas, o estado ganhou fama de violento, terra da pistolagem e de assassinos de aluguel. Em sucessivos governos, as forças policiais foram entregues ao comando de gente cuja única estratégia de atuação era o extermínio de “suspeitos”. Os saudosistas dessa “época de ouro” estão por aí, alguns até com mandato no Poder Legislativo.

Aqui as coisas se misturaram de tal modo que bandido e polícia se confundiam. Houve um período em que secretários de Estado chefiavam o aparato policial e “esquadrões da morte” – tudo ao mesmo tempo. Esquadrão era uma turma que saía noite adentro para eliminar os “marginais”. Era formado por fardados, civis e paisanos não policiais.

Hoje, digamos que o clima anda mais tranquilo. Até os anos 1990, nossa Assembleia Legislativa era um posto avançado de políticos dessa “linha dura” (eufemismo existe para isso). Por lá ainda transitam nulidades com pensamentos nada saudáveis. De vez em quando, um ou outro ainda ensaiam murros na mesa. Ao menos não sacam armas.

“Bandido bom é bandido morto”, ainda repetem estranhas figuras da nossa política. “Tá com pena do bandido morto, leva para casa”, relincham outros como se estivessem dizendo alguma novidade. Essas porcarias retóricas estão na praça desde sempre, e sempre para celebrar a chacina covarde, o banho de sangue.

A matança promovida pelo governo do Rio de Janeiro atiçou as hienas que farejam sangue e miolos expostos. O espetáculo dos governadores da extrema direita diante do caso é uma mistura de escatologia e crime eleitoral. O discurso de todos é asqueroso, mas Ronaldo Caiado leva o troféu de grande representante da quadrilha.

Dezenas de corpos ainda estavam expostos na rua, e esses cretinos já voavam para o Rio ao encontro de Cláudio Castro, o matador. Não querem solução para nada. Querem posar de pistoleiros em defesa do povo e pescar votos para 2026. A situação do Rio está do mesmo jeito que estava antes da chacina. Mas a ilusão alivia os desesperados.

Estado de Direito. Império da Lei. O devido processo legal. O respeito ao arcabouço normativo na investigação policial não pode ser relativizado. Era este o discurso de uma direita que, até ontem, se dizia empenhada em proteger as instituições. Agora não mais. A urgência pelas demandas políticas impõe a bruta realidade.

Claro, quem critica a ação delinquente do governo fluminense é carimbado como “defensor de bandido”. É o meu caso. Nos comentários ao texto anterior, as palavras de respeitáveis leitores representam a maioria da população. O que se pode acrescentar sobre isso? É tudo muito velho, como nos tempos da pistolagem.

Corta. Na guerra ordinária da política, ainda não estão claros a dimensão e o impacto que o episódio terá na corrida eleitoral. Lula e o governo reagiram rapidamente à ofensiva dos governadores. A disputa pela agenda é a pauta em todas as esquinas. Por aí.