O ex-comandante do Bope do Rio de Janeiro está em todos os meios de comunicação do país. Da Globo à Record TV, do UOL à revista Oeste, do Estadão à Folha, todo mundo foi ouvir o matador que é retratado em Tropa de Elite. Rodrigo Pimentel repetiu o que repete desde que virou celebridade em 2007, ano de lançamento do filme dirigido por José Padilha. Suas ideias pedestres reafirmam erros sobre gestão da segurança pública.

Enquanto o capitão reformado que chefiou o batalhão de elite reaparece na grande imprensa, governadores da extrema direita voam para o Rio. Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG) e Jorginho Mello (SC) estão entre os nomes confirmados num encontro arrumado de última hora. A intenção é fazer carnaval com a matança. 

Porque a matança está no topo das redes sociais, segundo o noticiário, a oposição ao governo federal planeja uma investida para virar a pauta. As 121 mortes são troféus para os de sempre, aqueles que defendem grupos de extermínio e tortura como técnica de investigação. A operação carioca é escolha deliberada de ação política.

Nos últimos meses, o bolsonarismo e a extrema direita perderam na PEC da bandidagem, no IR para quem recebe até 5 mil reais, no fiasco do PL da anistia, na trairagem de Eduardo Bolsonaro, na condenação de Jair Messias etc. Era preciso um atalho para trocar de assunto – uma chacina contra o Comando Vermelho.

A ordem nas facções da ultradireita é soltar o berreiro na linha prendo & arrebento. Gente acostumada a detonar nas periferias quando estava no batente policial se animou. Nada como um banho de sangue para recalibrar as estratégias na guerra político-ideológica. É o jogo no campo da morte, dentro das quatro linhas da Necropolítica. 

As manifestações de vereadores, deputados, prefeitos e demais patentes, pelo país todo, confirmam o projeto coordenado. Os conservadores cidadãos de bem no combate ao crime organizado. Lula e o governo incompetentes e até simpáticos ao banditismo. Mais uma vez, o mesmo tema embalado no eterno discurso, num eterno movimento.

A delinquência da hora acrescenta o termo narcoterrorismo e variantes. A presepada gramatical é cópia das invenções retóricas de Trump nos Estados Unidos. Serve para tornar mais dramático o que se pretende em tese combater. Quanto mais pânico na população, mais chance de o autoritarismo avançar sobre direitos fundamentais.

O governo Lula não ficou parado. Mostra projetos e propõe parceria diante das armações evidentes tramadas por Cláudio Castro, o governador bolsonarista e filiado ao PL. Sua meta, todos sabem, é ter apoio da família Bolsonaro na eleição para o Senado.

Mesmo quando os números dizem o contrário, a população reclama da insegurança e dos preços na feira. Imagine quando há um incentivo para reforçar a percepção do caos! Segurança pública? “Só o capitão Nascimento” dá jeito nessa bagunça.

Resta conferir se a jogada eleitoral – levada a cabo com 121 cadáveres – terá o efeito esperado pela ultradireita. Há certa comemoração antecipada.