A história é singela e longa, mas, em tempos tão moralmente confusos, vale a pena a leitura.
A polícia riu quando ela chegou com a mochila. "Senhora, se encontrou dinheiro, é seu." Mas ela insistiu por 9 dias: "Isso pertence a alguém. E eu vou achar esse alguém." Aos 73 anos, analfabeta, vivendo com R$ 600 por mês, Dona Joana encontrou R$ 180 mil no lixo. E se recusou a ficar com um centavo.
Dona Joana tem 73 anos. Catadora de recicláveis há 34 anos. Mora em Salvador, Bahia.
Analfabeta. Nunca foi à escola. Assina o nome com "X". Não sabe fazer contas.
Vive com R$ 600 por mês. Coleta latinhas, papelão, garrafas PET. Vende pra cooperativa. Cada quilo de papelão, R$ 0,40. Cada quilo de latinha, R$ 4,50.
Para juntar R$ 600, ela precisa coletar 600kg de material por mês. Vinte quilos por dia. Sete dias por semana.
É duro. É pesado. É humilhante às vezes. Mas é o que ela tem.
Era terça-feira, 14 de março de 2024, 6h da manhã. Dona Joana estava no seu ponto habitual: bairro Pituba, lixeiras próximas a prédios residenciais.
Abriu um saco de lixo grande. Preto. Pesado. Normalmente, lixo pesado não é bom pra catador. Significa comida estragada, resto orgânico.
Mas ela abriu mesmo assim.
E viu.
Uma mochila escolar. Azul marinho. Meio velha. Fechada com zíper.
Abriu a mochila.
E encontrou dinheiro. Muito dinheiro. Notas de R$ 100 e R$ 50. Empilhadas. Amarradas com elástico.
Dona Joana não sabe contar direito. Mas percebeu: era muito.
Olhou ao redor. Rua vazia. Ninguém vendo. Eram 6h15 da manhã.
Pegou a mochila. Fechou. Colocou no carrinho dela, embaixo dos papelões. E foi pra casa.
Chegou em casa às 8h. Chamou a vizinha, Dona Cida, que sabe ler e contar.
"Cida, me ajuda a contar isso aqui."
Dona Cida abriu a mochila. Ficou pálida.
Começou a contar. Demorou 40 minutos.
"Joana... isso aqui é R$ 180 mil".
Dona Joana não entendeu a dimensão. "Quanto é isso?"
"É trezentos meses do seu salário, Joana. Quinze anos de trabalho".
Silêncio.
Dona Joana olhou pro dinheiro. Depois pra própria casa. Barraco de madeira. Telhado com goteiras. Fogão quebrado. Geladeira velha.
Com R$ 180 mil, ela poderia reformar a casa. Comprar geladeira nova. Parar de trabalhar por 5 anos. Viajar pra ver a filha em São Paulo.
Dona Cida disse: "Joana, ninguém sabe disso. Você pode ficar."
Mas Dona Joana balançou a cabeça. "Não. Isso é de alguém. E esse alguém deve estar desesperado".
No mesmo dia, às 10h, Dona Joana foi até a 14ª Delegacia de Salvador. Levando a mochila.
O delegado olhou pra ela. Catadora de rua. Roupa suja. Cheiro de lixo. Mochila velha nas mãos.
"Pois não, senhora?"
"Achei isso no lixo. Tem dinheiro dentro. Muito dinheiro. Preciso achar o dono".
O delegado abriu a mochila. Viu o dinheiro. Ficou em choque.
"A senhora... a senhora quer devolver isso?"
"Quero. Não é meu".
O delegado chamou outros policiais. Contaram o dinheiro. R$ 180.400,00 exatos.
"Senhora, sem documentos, sem identificação, sem testemunhas... legalmente, após 90 dias, esse dinheiro seria seu."
Dona Joana não entendeu bem, mas disse: "Então eu volto aqui todo dia até achar o dono".
E foi o que fez.
Dia 1: voltou à delegacia. "Apareceu o dono?"
Dia 2: voltou. "E hoje?"
Dia 3, 4, 5, 6... todo dia, às 10h, Dona Joana aparecia na delegacia.
Os policiais começaram a se emocionar. "Essa mulher ganha R$ 600 por mês e está procurando dono de R$ 180 mil".
No dia 7, a delegacia postou nas redes sociais: "Encontrado R$ 180 mil no lixo. Dona buscando devolver. Se você perdeu dinheiro em mochila azul no bairro Pituba, compareça com provas".
A publicação viralizou. 240 mil compartilhamentos. 3,2 milhões de visualizações.
E no dia 9, apareceu.
Seu Manoel. 87 anos. Viúvo. Aposentado.
Ele chegou à delegacia chorando. Com fotos da mochila. Com recibos de saque bancário de R$ 180.400 feito 3 dias antes. Com a filha dele, que confirmou tudo.
"Eu escondi o dinheiro na mochila porque não confio em banco. Mas comecei a ter esquecimentos. Demência leve. Achei que a mochila era lixo velho. E joguei fora".
Dona Joana estava lá. Quando viram Seu Manoel confirmando que era o dono, ela sorriu. Aliviada.
"Achei o senhor. Graças a Deus".
Seu Manoel abraçou ela. Chorando. "A senhora... a senhora salvou minha vida. Isso era minha economia de 40 anos. Eu ia perder tudo".
A filha dele, emocionada, ofereceu R$ 20 mil de recompensa pra Dona Joana.
Ela recusou. "Não. Eu só fiz o certo".
A família insistiu. "Por favor, aceite pelo menos R$ 10 mil."
Dona Joana balançou a cabeça. "Não é meu. Eu não fiz nada demais. Só devolvi o que era dele".
A história viralizou nacionalmente. Programas de TV. Jornais. Redes sociais.
E algo aconteceu.
Um jornalista criou uma vaquinha online. "Vamos recompensar Dona Joana, já que ela não aceita do dono".
Em 11 dias, a vaquinha arrecadou R$ 340 mil. Doações de todo o Brasil.
Quando contaram pra Dona Joana, ela não acreditou. "Isso é mentira. Ninguém dá dinheiro assim pra pobre".
Mas era verdade.
Com o dinheiro, Dona Joana comprou uma casa. Pequena. Simples. Mas de alvenaria. Sem goteiras. Com geladeira nova. Fogão novo. Cama nova.
Parou de catar lixo. Hoje ajuda na cooperativa de recicladores, ensinando novos catadores.
E Seu Manoel? Visita ela uma vez por mês. Leva bolo. Conversam. Viraram amigos.
Na porta da casa nova de Dona Joana, tem uma placa:
"Joana, 73 anos. Catadora. Analfabeta. Devolveu R$ 180 mil encontrados no lixo. Porque honestidade não tem preço. E caráter não se compra".
Hoje, 18 meses depois, Dona Joana ainda não acredita no que aconteceu. "Eu só fiz o certo. O dinheiro não era meu. Simples assim".
Mas o que ela não entende é que, num mundo onde muita gente roubaria R$ 180 mil sem pensar duas vezes, ela — pobre, analfabeta, ganhando R$ 600 por mês — escolheu a honestidade.
E por isso, ganhou muito mais que dinheiro. Ganhou respeito. Admiração. Um lar. E a certeza de que fez a coisa certa.
Porque caráter não se mede por diploma. Não se mede por conta bancária. Se mede por escolhas. E Dona Joana fez a escolha certa. Nove dias seguidos. Até achar o dono.
Se você encontrar algo valioso que não é seu, devolva. Porque honestidade sempre, sempre, é recompensada. Nem sempre com dinheiro. Mas sempre com paz de espírito. Como Dona Joana tem hoje.
Fonte: internet










