Instituto de pesquisa sem nome. Do contratante, nada se sabe. Quantos eleitores foram ouvidos? Qual o universo pesquisado e qual a margem de erro? Não adianta. Todas as perguntas ficam sem resposta – a não ser a classificação dos eventuais candidatos. Segundo a pesquisa que não é pesquisa, a primeira-dama da capital, Marina Candia, lidera a corrida pelo Senado em 2026. São duas cadeiras em jogo.

Quem anotou o exotismo da coisa foi o jornalista Edivaldo Júnior, na Gazetaweb.com. Segundo ele, os dados do levantamento – “sem fonte” – explodiram nas redes sociais. Saí pelo Google afora para investigar a dimensão dessa notícia inesperada. Sim, o troço, ao que tudo indica, “viralizou”. E como tudo isso começou, eis o grande mistério.

“O levantamento carece de qualquer credibilidade”, alerta o mesmo Edivaldo Júnior. Mas e daí? Pesquisa anônima tá valendo? Nas jogadas atribuídas pelo noticiário aos “bastidores”, vale isso e muito mais. Vejam a maluquice do enredo completo. Aspecto dos mais temerários fica para o nosso lado, o papel exercido pela imprensa.

Não importam aqui as intenções – o que conta é a forma de divulgação. É comum que colunistas falem de “pesquisas para consumo interno” – o que já é algo insondável. O episódio com a jovem senhora Caldas extrapola o padrão conhecido. Nunca uma pesquisa fictícia alcançou tamanha repercussão em nosso jornalismo.

Se a moda pega, vamos começar a ler “pesquisas” dessa natureza todos os dias. E o Tribunal Regional Eleitoral, como é que fica? Dois ou três dias após a divulgação do “fenômeno eleitoral” Marina Candia, o fato já ganhou desdobramentos mais sérios. A um ano da eleição, isso tem alguma lógica, para além de blefes, trapaças e rasteiras?

Antes de pensar numa resposta, veja a repercussão interestadual. Saiu no Estadão Mato Grosso. “Esposa do prefeito: Marina Candia, de família tradicional de Cuiabá, lidera disputa ao Senado em Maceió”. A notícia saiu em toda a imprensa mato-grossense. A primeira-dama da capital alagoana é popular em ao menos duas capitais.

Num resumão apressado, o autor intelectual dessa manobra obteve resultados acima de suas mais altas expectativas. Pautou a imprensa (tô nessa) e deu ampla visibilidade a uma nova marca, digamos assim. De quebra, o episódio impõe alguma reflexão sobre jornalismo, o que é sempre bom, em qualquer tempo e lugar. 

E para ratificar: por razões óbvias, o caso também dá um toque na Justiça Eleitoral.