Embalado pelas boas notícias das últimas semanas, Lula andou distribuindo elogios para a Câmara dos Deputados. O presidente apontou para a extrema direita ao citar “o mais baixo nível” que se vê no Congresso Nacional. As palavras soaram ainda mais pesadas porque foram pronunciadas na presença de Hugo Motta, o presidente da casa legislativa. O discurso de Lula parece seguir os fatos e os ventos que sacodem os fatos.
O senador Rogério Marinho, o deputado Sóstenes Cavalcante e o governador Ronaldo Caiado não gostaram do palavreado lulista. Num momento ternura, o três reclamaram da arrogância presidencial e de um suposto incentivo à intolerância política. Mas até ontem esses três senhores pregavam que “o governo Lula acabou”.
Mesmo com uma derrota na semana passada, quando a base esperava aprovar um aumento de arrecadação, a maré segue favorável ao governo. Os deputados conseguiram a façanha de, outra vez, votar para proteger bilionários, contra os interesses do país. E foi exatamente esta mensagem que emplacou no metaverso.
Depois de aprovarem a Pec da Bandidagem, parlamentares da ultradireita, como Fábio Costa e Alfredo Gaspar, apostam fichas na chanchada produzida com a CPI do INSS. Citei os dois políticos alagoanos para contextualizar o episódio com um “gancho local”. Um deles, aliás, ocupa o poderoso cargo de relator na bagunçada comissão.
Como já escrevi aqui, mais de uma vez, o relator e vários de seus pares na CPMI atuam como xerifões. Desqualificados para o exercício da política, gastam o tempo com gritaria, confundindo o parlamento com um distrito policial. E assim o Congresso segue dividido nesses dias inglórios. Delinquência no plenário, demagogia na comissão mista.
É sobre esse ajuntamento de deputados e senadores que a tempestade perfeita desaba de vez em quando. Acontece agora. O marketing governista assim entende, a julgar pelas peças que estão chegando tanto às redes quanto aos meios tradicionais de comunicação. Até quando o governo vai manter esse padrão, aí depende dos fatos.
Lula sabe que precisa calcular atos e palavras. A relação com o parlamento, sempre delicada, não pode se estabilizar no modo guerra permanente. Os dois lados sabem disso. Dois temas sem qualquer ligação vão dar a medida do clima: a votação no Senado do projeto de isenção do IR, já aprovado na Câmara, e o novo ministro para o STF.
Sobre o IR, a Câmara aprontou durante seis meses. A depender de como votarem os senadores, o negócio retorna ao circo dos deputados. E a indicação do sucessor de Luís Roberto Barroso também pode gerar estresse – a partir do nome escolhido por Lula. De origem e natureza distintas, as pautas têm potencial para novos tumultos.