Começou mal o jornalismo da TV Asa Branca, nova afiliada da Globo em Alagoas. Não avalio aqui o desempenho individual dos jornalistas que apareceram no vídeo, mas o produto exposto como noticiário. Para começar, o telejornal exibido a partir de 19h10 tem como estúdio um cenário virtual. Tive a impressão de estar vendo a TV de vinte anos atrás, e olhe lá. Erro primário denunciou amadorismo incompatível com a Globo.

É estranho que a afiliada faça uma estreia com um estúdio fake e acanhado, afinal, diziam as notícias, a emissora estava “com toda a estrutura montada desde 2023”. Bem, não parece que a montagem esteja realmente pronta. Se estiver, então fizeram propaganda enganosa. Quanto ao conteúdo, a parada também foi complicada.

Com a facilidade de hoje em dia, claro que houve as entradas ao vivo. A pauta, no entanto, foi sofrível, para dizer o mínimo. Num desses “ao vivo” houve uma entrevista, em ambiente fechado, com um oficial da PM fazendo propaganda de uma simulação de assalto a banco que vai acontecer. É o legítimo jornalismo chapa-branca.

O telejornal foi até Arapiraca. A agitada capital do Agreste, segunda maior cidade de Alagoas, tem mais de 240 mil habitantes. Há grandes empresas, comércio movimentado, universidades, shopping center, parques, academias e muito mais. Uma economia robusta e em crescimento. Bares, restaurantes e baladas sacodem a noite. 

Mas o telejornal AB-2 – o nome não ajuda, mas isso é o de menos – não mostrou nada disso. Preferiu imagens de um lago de criação de camarões, com entrevistas com produtores do negócio. Nada contra a Aquicultura, mas convenhamos que não é bem isso o que traduz a diversidade da grande Arapiraca. Foi apenas tedioso.

E finalmente foi constrangedor o repeteco da interminável reportagem exibida pelo Fantástico sobre o influencer trambiqueiro Kel Ferreti. Não há explicação aceitável para isso. O básico seria uma matéria com assinatura de um repórter da afiliada. Se é para reproduzir enlatado, não precisa de emissora local, basta o sinal da Globo e pronto.

A TV Asa Branca de Caruaru, vamos combinar, não é nenhuma Brastemp nem Coca-Cola. A palavra de ordem é custo mínimo de produção, o que se reflete claramente num jornalismo capenga. Até agora, não há previsão sobre os horários do começo da manhã e do meio-dia. Continuam os enlatados Bom Dia Pernambuco e NE-1. Mais um sinal de que não houve planejamento nenhum para estruturar a emissora sediada em Maceió.

A concorrência é forte, sobretudo com a TV Gazeta e a TV Pajuçara. Na comparação direta na noite desta segunda-feira, as duas veteranas ganharam de goleada. Claro, foi apenas a estreia. Certamente haverá avanços – mesmo porque não é possível piorar o que apareceu como primeiro telejornal da Asa Branca. Boa sorte aos envolvidos.