Definitivamente, a maré não anda tranquila para o presidente nacional do União Brasil, Antonio Rueda. Todo santo dia uma novidade põe o estranho personagem em mais um enredo carregado de suspeitas. Agora é o caso de um contador particular do advogado Rueda que levou mais de 700 mil reais do União. Traduzindo para clarear: na cara dura, o presidente da legenda usa recursos partidários em seus negócios particulares. 

Por recursos partidários entenda-se dinheiro público – porque a origem é o fundo abastecido pelo orçamento federal. Tudo dentro da lei, assim como está dentro da lei o fundo eleitoral, que pode chegar a 5 bilhões de reais para 2026. No primeiro semestre deste ano, 19 partidos receberam mais de 570 milhões de reais do fundo partidário.

Quem controla e quem fiscaliza uma fortuna desse tamanho? Há mecanismos que naturalmente funcionam apenas no papel. Por isso, os casos como o de Rueda e do União proliferam com a frequência dos ventos e a força das ventanias. Não se trata de uma exceção aqui e outra ali, é a regra despudorada que está em todo lugar.

Repare bem: chefiar um partido é um dos negócios mais lucrativos na economia brasileira. O capital social não saiu do bolso dos sócios-controladores, mas dos cofres da União, dos impostos que todos nós pagamos (alguns mais, outros bem menos). Nesse segmento não é raro que o presidente oficial seja na verdade um testa de ferro.

Sem a devida vigilância, e com uma prestação de contas de ficção, o fundo partidário serve para pagar as contas pessoais de medalhões e medalhinhas da política. Da escola dos filhotes à reforma da casa de praia, o seu dinheiro suado banca a vadiagem de Suas Excelências, com ou sem mandato eletivo. Ou seja, o crime perfeito existe sim.

Ao lado do repasse obrigatório para os partidos, o Brasil se meteu em outra enrascada infernal quando acabou com o financiamento privado e criou o fundão eleitoral. Ano que vem, como escrevi acima, a farra deve chegar a 5 bilhões de reais. O valor sobe a cada eleição. Quanto maior a bancada federal, mais dinheiro na conta, no saco sem fundo.

Ao lado das emendas parlamentares, os fundos partidário e eleitoral formam o Triângulo das Bermudas da política e da vida pública brasileira. Entrou nessa área, não tem mais jeito: seja pelo mar ou pelas nuvens, tudo some, e nunca mais veremos a cor e o conteúdo dos cofres tragados para sempre. E nada de novo no horizonte.