O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, é do União Brasil. O senador Ciro Nogueira é o presidente nacional do Progressistas, o velho PP. As duas legendas formam uma federação que, oficialmente, vai à luta em 2026 como uma potência de respeito. Em Alagoas, Alfredo Gaspar é do União. Já o deputado Arthur Lira é o cara do PP por essas bandas. No âmbito nacional, o ajuntamento ocupa dois ministérios, Turismo e Esporte.

O presidente do União é o heterodoxo Antonio Rueda. Ele e Ciro comandam a federação que passou a ter a maior bancada na Câmara, com 109 deputados. Na outra casa do Congresso, as duas siglas somam 14 senadores. Por todos os ângulos, estamos diante de uma das maiores forças para as eleições do ano que vem. Parece tudo uma maravilha.

Mas não é bem assim, a começar pelo jogo duplo que os dois partidos fazem desde o começo do governo Lula. Mais chegados à extrema direita – mas principalmente à “ideologia” do centrão –, PP e União gostam de se apresentar como opositores. Ocorre que, além dos ministérios citados, ocupam cargos de norte a sul do país.

Nas últimas semanas, Rueda se revoltou com notícias de suas relações perigosas com o mundo do crime organizado. A PF investiga a participação do líder partidário em negócios milionários do PCC. Num jogo de cena, ele atribui os fatos à máquina do governo. Por isso, deu ordem para que os ministros entreguem os cargos imediatamente.

Neste domingo, os problemas da federação escalaram mais alguns degraus. Em entrevista ao jornal O Globo, Ciro Nogueira afirmou que Bolsonaro vai escolher o candidato a presidente entre os governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ratinho Junior (PR). Assim, descartou a candidatura de Caiado, que reagiu cuspindo fogo e ironias.

Caiado atacou o “inexpressivo senador” que não tem voto, segundo ele, nem para se reeleger no Piauí. Reafirmou que é pré-candidato e não reconhece em Ciro autoridade para falar sobre as alianças para o Planalto. A troca de gentilezas expõe um racha na federação – o que pode azedar o papo de frente unida contra a reeleição de Lula.

A briga entre os dois é apenas uma das várias confusões na turma da ultradireita quando o assunto é o candidato a presidente. Eduardo e Flávio Bolsonaro também atiram a esmo, atingindo em cheio os próprios aliados. A pancadaria é generalizada.

Claro que entre Ciro Nogueira e Ronaldo Caiado, o melhor para o Brasil é a briga. Eduardo pirou de vez nos Estados Unidos. De resto, envolvendo os demais personagens, o bolsonarismo atravessa sua maior crise. Lula agradece mais esse presente.