Durante tantos anos no dia a dia de redações, não foram poucas as vezes em que editei reportagens sobre fraudes em autoescolas para obtenção da CNH. Com a decisão do governo federal de acabar com a obrigatoriedade desse negócio privado para o candidato a motorista, lembrei dessa pauta recorrente na imprensa brasileira. Fui ao velho Google – que agora tem IA – e fiz uma pergunta sobre essa marmota.

Surpresa zero – o que não ameniza a gravidade do que apareceu. O oráculo virtual que tudo sabe apresenta uma lista dos tipos de mutreta que acontecem nos centros que se vangloriam de dar “formação técnica e segura” aos alunos. São cinco maneiras de driblar o que em tese é obrigatório. Em todas, é difícil acreditar na inocência da empresa.

A lista começa com biometria falsa. Essa jogada é um clássico e aparece em outros setores. Usa-se um molde de silicone com as digitais para forjar presença nas aulas. Corrupção em exames: a velha propina para subornar funcionários da casa que “aprovam” o candidato. O pagador recebe dicas para não ser descoberto em flagrante.

Um terceiro atalho é o registro de aulas fantasmas. A carga horária obrigatória é “comprovada” sem que uma aula sequer tenha sido ministrada. Quando ministrada, o aluno nunca apareceu por lá. Falsidade ideológica: em outro método consagrado, uma pessoa faz o exame teórico no lugar de outra, aquela que de fato vai pegar a CNH.

E a modalidade mais bruta e direta: a venda de CNH. Como outros milhões de produtos, a carteira de motorista também é ofertada nas redes sociais e no YouTube. Com um valor bem abaixo da tabela, negociantes entregam o documento pronto e acabado. É a livre concorrência na economia de mercado. Pagou, levou e... Pé na estrada.

Sabe-se lá qual o percentual de todas as carteiras concedidas cuja origem são esses meios heterodoxos. A verdade é que a autoescola não é garantia de segurança e legalidade na emissão da CNH. O histórico demonstra o contrário. Com todo o respeito, não há argumento que fique em pé na defesa desses centros de fazer dinheiro. 

Populismo eleitoreiro?! Vi jornalistas “acusando” o governo de jogada eleitoreira. É sério isso? Bom, então vamos revogar a isenção de IR que acaba de ser aprovada na Câmara. Vamos acabar com o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e a desoneração da folha de dezenas de negócios. E energia e gás mais baratos? Elimina tudo.

Aliás, para facilitar a extinção do populismo eleitoreiro, que tal um revogaço? Que sejam abolidos todos os programas sociais que aliviam a vida de milhões de famílias. O povaréu vai se lascar, mas estaremos em outro patamar na política, livres de populistas.