Como escrevia Nelson Rodrigues, o gênio incomparável do teatro e da literatura, é batata. Assim que acesso o primeiro portal de notícia, em mais um dia nesta vida, não dá outra: em algum lugar desse Brasil de meu Deus, um influencer acaba de ser preso. O capturado da vez é Gabriel Spalone, rendido pela Polícia Federal sob a acusação de um golpe que teria desviado 147 milhões de reais numa jogada via Pix. É um especialista.
Eu falei prisões pelo Brasil, mas o fenômeno já atravessa fronteiras. O paulista Spalone, o galã que aparece na foto acima, foi detido no aeroporto do Panamá, em plena fuga rumo a Dubai – ou Holanda. Entre uma conexão e outra, ele tentou trocar a passagem de um destino para outro, quando acabou algemado. Sua defesa acusa abuso de autoridade.
As notícias sobre influenciadores metidos em esquemas de desvios bilionários aparecem de norte a sul. Como todos celebram, a revolução digital do metaverso é democrática. Foi-se o tempo do monopólio baseado no eixo RJ-SP. Tem espaço para todos. Aqui em Alagoas, perdi a conta de quantas operações já levaram gente desse ramo para o xadrez.
Voltando a Spalone, a opção de fuga para Dubai não era por acaso. Ele tem residência por lá. Essa é outra marca da categoria influencer. A turma roda o mundo em jatinhos de luxo e embarcações futuristas. Quando não têm imóvel próprio em lugares distantes, os influenciadores viajam para festinhas temáticas em busca de descobertas espirituais.
O segmento também ostenta um padrão visual. Afora as exceções de sempre, predominam os rapazes marombados e as moças que fazem de tudo para “sensualizar”. Em comum, corpos usados como outdoor para tatuagens e harmonização que vai do calcanhar até as bochechas. Muitos formam casais descolados e aventureiros.
Outro padrão: em cada investigação, além dos presos, temos dezenas de carrões apreendidos, assim como joias e milhões de reais em espécie. A fonte de tudo isso? Jogos, rifas, remédios, sorteios, reality shows etc. Diversidade e talento de sobra.
Até um dia desses, “quero ser famoso” era a resposta da garotada sobre o desejo para o futuro. Como tudo sempre piora, agora todos querem ser influencer. Sem dúvida, o negócio dá dinheiro. Só precisa ter cuidado para não acabar atrás das grades.