Como se fosse a coisa mais natural do mundo, a imprensa noticia que lideranças na Câmara Federal cobram de Hugo Motta, o presidente da Casa, um revide contra o Senado. Deputados estão revoltadíssimos com a decisão dos senadores que enterraram a PEC da Bandidagem e do PCC. Eles alegam que houve “traição” a um suposto acordo entre as duas esferas do Congresso. A Câmara quer se desmoralizar um pouco mais.

A turma do centrão e outras facções garantem ter uma lista de alternativas para usar como armas contra o Senado. Entre estas está a CPMI do INSS. A ideia é vasculhar a vida de senadores e jogar qualquer coisa para ligá-los ao escândalo da roubalheira contra aposentados. Como já escrevi, a CPI é palanque eleitoreiro de desqualificados. 

O deputado Arthur Lira nega qualquer intenção de chantagear o governo com o relatório do projeto de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até 5 mil reais por mês. O parlamentar diz que a medida reduz as “desigualdades tributárias”. Que maravilha!

Afora isso, Lira culpou a imprensa por uma “narrativa” segundo a qual houve atraso proposital na tramitação. Lembrando: ele está com o projeto há seis meses – e apenas agora diz que seu relatório finalmente vai sair. Hugo Motta garante que o projeto será pautado no decorrer da próxima semana. Não há motivo para toda essa morosidade.

A não ser, claro, motivos espúrios. Os vagabundos que ainda tentam salvar Bolsonaro da cadeia querem atrelar a votação sobre o IR ao imoral projeto de anistia (ou dosimetria) para os condenados pelo golpe de Estado. Os caras não desistem da pilantragem.

A semana que termina foi devastadora para a Câmara dos Deputados. Os capachos de Bolsonaro tentaram uma aberração para manter Eduardo, o Zero Três, com prerrogativas de um mandato virtual. O elemento seria o “líder da minoria”. Motta, dessa vez, agiu rápido, de acordo com o regimento e com a lógica, e rejeitou a presepada.

Barrada a manobra, o afetado Bananinha não vai liderar porcaria nenhuma. Além disso, o Conselho de Ética abriu processo que, em tese, pode cassar o mandato do maior traíra na história recente do país. Não é fácil. O Conselho tem maioria de extrema direita e de bolsonaristas irrecuperáveis. Mas a pressão popular pode ser decisiva.

Nunca é demais deixar claro isto aqui: Poder Legislativo é pilar na democracia. Deve-se defender o parlamento sem qualquer ressalva. Quem pregava o fechamento do Congresso era um deputado do baixo clero, defensor de tortura e de milícia.

A Câmara precisa se ajudar. Um pouquinho de decoro já seria um começo. Porque, do jeito que está, como se viu com aquela PEC, o PCC vai assumir o comando.