Antigamente, Breno Couto de Albuquerque Melo (foto) poderia ser chamado de filhinho de papai. Um típico membro dessa fauna age como se estivesse acima da lei e dos direitos das outras pessoas. Diante de qualquer desassossego, o filhinho recorre aos poderes do pai e resolve a parada. Breno Albuquerque é de Arapiraca, tem 33 anos e está no segundo mandato de deputado estadual. Ele é filho de Dudu Albuquerque.

Dudu também foi deputado. Nos últimos anos, se meteu em várias confusões com a família Santos, de Traipu. Em mensagens de áudio em abril de 2024, o pai de Breno faz ameaças de morte ao ex-prefeito Marcos Santos e sua família. Em 2018, o jovem Breno, então com 26 anos, se elegeu parlamentar e sucedeu o pai na Assembleia Legislativa.

Uma coisa nada tem a ver com a outra, é verdade. Lembrei o episódio do pai apenas para contextualizar a origem do rapaz e clarear os modos políticos no agreste alagoano. Não é fácil superar as tradições. No interior de Alagoas, as disputas de poder ainda estão associadas a métodos pouco delicados de convivência. Ficou claro isso?

Talvez Breno Albuquerque não se encaixe mais na categoria de filhinho de papai. Embora valendo-se do sobrenome familiar, logo cedo partiu para voos próprios. Talvez ele se encaixe em outro conceito sociológico das antigas – é o retrato sem retoques do playboy.

Como o CM mostrou em detalhes, o deputado de Arapiraca provocou um acidente envolvendo outros seis carros na avenida Fernandes Lima, em Maceió. Vídeos gravados no local mostram o político cambaleando entre os veículos, sem qualquer condição para dirigir um velocípede, quanto mais um desses carrões dos endinheirados alagoanos.  

Preso em flagrante, o parlamentar inventou uma versão fantasiosa para se livrar de eventual punição. Não recorreu ao pai. Fez pior: jogou a culpa no próprio irmão e num amigo da família. As imagens desmentem a piada construída por sua defesa. O Boletim de Ocorrência também não deixa dúvida sobre o que de fato ocorreu na avenida.

Leio na imprensa que seus advogados pediram que a Justiça decrete sigilo das investigações. Estão preocupados com a “honra” do jovem político. São uns brincalhões. Não vi nenhuma manifestação da Assembleia Legislativa. Cabe votar anistia ao colega?

Pela violência do acidente – provocado exclusivamente pelo carro do deputado –, é um milagre que ninguém tenha se ferido. Mas o estrago no patrimônio alheio é imenso. Em alguns dos veículos, houve a chamada “perda total”. Que o elemento, digo, que Sua Excelência indenize as vítimas. É o mínimo que o playboy embriagado deveria fazer.