O programa de intercâmbio cultural do Governo de Alagoas, ao privilegiar o envio de estudantes da rede pública exclusivamente para Londres, sem contemplar países africanos, ignora a composição étnico-racial da população alagoana — majoritariamente afrodescendente — e reforça o que Pierre Bourdieu (2007) conceituou como “racismo da inteligência”.

Para Bourdieu, o racismo da inteligência não se limita à dimensão biológica, mas se manifesta de forma sutil e simbólica, quando determinados saberes, culturas e modos de existência são considerados legítimos e universais, enquanto outros são sistematicamente desvalorizados ou invisibilizados. Esse processo, que ele relaciona ao conceito de violência simbólica, garante a reprodução das hierarquias sociais, já que os grupos dominantes impõem seus padrões culturais como superiores e universais.

Nesse sentido, ao enviar estudantes exclusivamente para um país europeu, o programa reforça a centralidade do capital cultural eurocêntrico como forma legítima de conhecimento, em detrimento da valorização das matrizes culturais africanas que estruturam a história, a cultura e a identidade da população alagoana e brasileira.

Bourdieu destaca que a escola e as políticas educacionais podem se converter em mecanismos de reprodução social, pois transmitem não apenas conhecimento, mas também uma visão hierarquizada do mundo. A escolha de Londres como único destino, nesse caso, cristaliza a ideia de que a experiência cultural válida e de prestígio é a europeia, enquanto a experiência africana permanece invisibilizada e deslegitimada.

Assim, o programa, ao invés de ampliar os horizontes culturais dos estudantes, reproduz desigualdades simbólicas ao negar às juventudes afrodescendentes o direito de se reconhecerem como sujeitos históricos em diálogo com suas origens africanas. Essa exclusão constitui uma forma de racismo simbólico, pois desqualifica a contribuição dos povos africanos para a formação da sociedade alagoana e brasileira.

Portanto, uma política verdadeiramente comprometida com a diversidade e a equidade deveria incluir, de forma significativa, países africanos como destinos prioritários, fortalecendo os vínculos históricos, linguísticos e culturais que sustentam a identidade da população negra de Alagoas. Isso não significa excluir a Europa, mas reconhecer que a valorização da África no currículo e nas práticas educativas é um passo necessário para enfrentar o racismo estrutural e o racismo da inteligência denunciado por Bourdieu.

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