Delegados que entram na carreira política não podem continuar nas instituições policiais. É um escândalo que arrivistas usem livremente o aparato de Estado para se dar bem em seus projetos pessoais. Vale o mesmo para as polícias Federal e Rodoviária, e também para as Forças Armadas. São atividades conflitantes. A segurança pública não pode ficar sob a influência deletéria de espertalhões enfiados na politicagem até as barbas.
No panorama que está aí há décadas, um agente policial de qualquer patente ou gradação se elege, mas continua nos quadros da corporação. Uma vez no exercício do mandato, mistura as novas atividades e corrompe os princípios de conduta do serviço público. Mas essa presepada é ainda mais problemática do que isso.
Como o sujeito está decidido mesmo a se dar bem nos esquemas políticos, ao eventualmente perder uma reeleição, ele retorna para a função de origem – mas não para trabalhar com seriedade. Ele retorna apenas para fazer campanha, com o aparato oficial, de olho em nova eleição logo adiante. É um acinte aos servidores de verdade.
E há casos mais absurdos nos quais os brincalhões se elegem e continuam exercendo a função de delegado, por exemplo. Isso sim é uma safadeza inaceitável. É evidente que um vereador ou deputado em tais condições usa o posto nas polícias para turbinar suas ações na política partidária. É o crime perfeito – se é que estou sendo claro.
O Brasil precisa se livrar dessa excrescência. Não é nada de outro mundo. Basta verificar o que houve com o Ministério Público. Por ali, ocorria o mesmo balé pornográfico entre carreira de Estado e aventuras políticas. Em Alagoas, há exemplos de promotores que alternaram durante anos o cargo no MP e mandatos de prefeito.
A farra no MP acabou depois de Emenda Constitucional de 2004. Mesmo assim, os mais atrevidos ainda recorrem à Justiça na tentativa de garantir este privilégio espúrio: ter um mandato na política e seguir como fiscal da lei e da administração pública. É um escracho. Ora, se busca uma jornada no Executivo ou no Legislativo, boa sorte e adeus.
Foi precisamente o que aconteceu com o hoje deputado federal Alfredo Gaspar. Por sua vontade, estaria até hoje nos dois lados do balcão, fazendo política em jornada dupla, negociando com a turma do partido e dando ordens no Ministério Público. Qual é a parte dessa estripulia imoral que não está clara? Ele foi obrigado a escolher um lado.
Com o MP resolvido, falta resolver o descalabro com as polícias e as Forças Armadas. O remédio definitivo depende do Congresso. Mas se já era difícil, agora, com a banda podre do parlamento em busca de anistia para bandidos, danou-se.