Em pouco mais de uma hora, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, empilhou provas irrefutáveis contra o golpista Jair Bolsonaro e os sete comparsas do núcleo principal da trama. Como previsto, o julgamento do ex-presidente começou às nove da manhã desta terça-feira 2 de setembro. Sem digressões, Gonet foi didático e defendeu, com termos duríssimos, a condenação dos réus em sua peça acusatória.
Antes de Gonet, o ministro Alexandre de Moraes apresentou seu relatório com um resumo dos fatos. Para analistas que se manifestaram logo após a fala do relator da ação penal, ele fez um discurso descabido. A queixa decorre do que Moraes sustentou na primeira parte de sua manifestação. A princípio, a crítica é pertinente.
Moares falou por duas horas. Nos primeiros vinte e poucos minutos, ele fez comentários sobre o contexto político que cerca o julgamento. Criticou as “pressões internas e externas”, teorizou sobre Estado de Direito e exaltou a soberania do país e a independência do STF. Ele ainda atacou a ideia de anistia para acusados pelo golpe.
Ainda longe dos autos, Moraes afirmou que “covardia e ações traiçoeiras” não são caminho para pacificação. Como se sabe, bolsonaristas batalham pelo perdão geral para os acusados via Congresso Nacional. Aliás, na noite desta segunda-feira, o deputado Arthur Lira tratou desse tema com o próprio ex-presidente durante visita a ele, que cumpre perisão domiciliar. Ou seja, é a busca antecipada por redução de danos.
A fala vista como política de Moraes foi algo desnecessário porque, como disse, avança além dos autos da ação penal. Não haverá, claro, nenhum prejuízo para o julgamento. Na sequência, aí sim, o ministro atacou o coração da trama golpista. Seu resumo dos fatos foi visto como impecável pelos mesmos analistas que o criticaram pela fala inicial.
Mas o destaque maior, até agora, foi a manifestação do procurador-geral da República. Suas alegações percorreram todas as etapas da “arquitetura criminosa”. Ao apresentar uma linha do tempo, Gonet apontou com clareza as sucessivas etapas de um complô cujo objetivo final e único era a tomada de poder pela força. As instituições reagiram.
O julgamento foi retomado no começo da tarde com as alegações dos advogados de defesa. O primeiro a falar foi o defensor do tenente-coronel Mauro Cid, réu e delator. Enquanto escrevo, está na tribuna o advogado do deputado Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, a agência que foi usada como braço do plano para o golpe.
O julgamento segue sem confusões de qualquer tipo, como deve ser, de acordo com a lei. Acompanhando aqui os lances da história a quente, no calor da hora.