Março de 2011. No programa CQC, da Band, a cantora Preta Gil perguntou a Jair Bolsonaro como ele reagiria se um de seus filhos se apaixonasse por uma pessoa negra. O então deputado respondeu na lata: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem-educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”. Um pai de família exemplar.

Corta para agosto de 2025. No telefone celular do agora ex-presidente inelegível, a Polícia Federal encontrou diálogos que revelam o verdadeiro tipo de relação entre pai e filhos. Veja bem, Bolsonaro ressalta que sua família não combina com promiscuidade. Além disso, ensina como se deve educar os herdeiros. Um modelo a ser seguido.

O conteúdo do celular expõe diálogos entre Bolsonaro e o filho Eduardo. Eles tratam de suas jogadas contra o Brasil, com o rebento atuando nos Estados Unidos para detonar a economia brasileira. A delinquência conta ainda com a participação do pastor picareta Silas Malafaia. As conversas ocorreram nas últimas semanas.

Vamos deixar Malafaia de lado. O que de fato interessa, aqui neste recorte, são as falas de Eduardo para o pai. Eles se desentendem. Os termos são um tanto deselegantes. Escreve o filho para seu herói paterno, em maiúsculas: “VTNC SEU INGRATO DO CARALHO”. Você sabe a tradução da sigla que abre essa singela declaração.

Deus, pátria e família. Que bonito quando ouvimos um patriota em estado puro. Melhor ainda quando esse tipo posa de autoridade moral sobre a vida dos outros, aqueles que vivem em “promiscuidade”. Eduardo ficou possesso ao ler uma entrevista do pai com críticas a ele. Ao site Poder 360, Jair disse que o filho era “imaturo”.

Jair se referia a falas de Eduardo contra o governador Tarcísio de Freitas. O rapaz reage: “Me fudendo aqui! VC ainda te ajuda a se fuder aí! (..) Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder é vc. E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI”.

As gravações mostram que a turma não está nem aí para o Brasil. A missão é uma só: livrar Bolsonaro da cadeia, impedindo o STF de levar o ex-presidente a julgamento. A PF revela ainda que o “mito” fez transferências bancárias fatiadas para Eduardo e para Michelle Bolsonaro. Ou seja, tem grana suspeita para financiar a quadrilha.

A bagaceira é interminável. As armações dos criminosos não têm limites. Tudo isso com o requinte dessa relação marcada por respeito à instituição familiar, não é mesmo? “Deus, pátria e família” é palavra de ordem do fascismo – e aqui não é opinião, é fato histórico. A família Bolsonaro eleva tudo isso a níveis de estado da arte.

Para fechar, uma digressão, baseada em fatos reais. Os bolsonaristas de Alagoas devem seguir o padrão do ídolo. Imagino como se tratam deputados e vereadores no aconchego familiar. Devem mostrar a seus filhinhos como um filho (Eduardo) trata o próprio pai (Jair). É assim que eles defendem a família com boa educação.