Tem a prisão domiciliar de Bolsonaro saindo do forno para mobilizar a imprensa e sacudir a opinião pública. Tem o tarifaço de Trump entrando em vigor, o que abre uma temporada de incertezas para setores da economia. Há quem veja um horizonte sombrio, com perspectivas de uma crise de dimensões imprevisíveis. Mas um assunto que quebrou a internet, chegando a ofuscar a prisão do Jair, foi a demissão de Daniela Lima.

Dos confins de seu mundo mágico, Deltan Dallagnol gravou um longo vídeo sobre o assunto. Ele aparece em êxtase com a notícia sobre a jornalista dispensada da GloboNews. Motivo: ela é de esquerda e trabalha contra os princípios dos rapazes conservadores e da família brasileira. Delta, para sua patota, esbanja afetação e idiotice.

Na mesma linha de pensamento embaçado, jornalista da Jovem Pan esbraveja, também cheio de trejeitos e muito berreiro: “Faz o L agora”. O nome dele é Pilhado. Assim como Delta, outro machinho histérico, incomodado com a postura e o talento de uma mulher. Babacas passando vergonha para defender o marginal golpista que ambos idolatram.

Não é a primeira vez, nem será a última, que a demissão de jornalistas vira notícia. Houve casos em que isso tinha um “gancho” concreto para ser do interesse da imprensa. No episódio de Daniela Lima, não se tem essa justificativa. O mais estranho é esse carnaval por parte de políticos da extrema direita que, pelo visto, não têm o que fazer.

Citei esses dois sujeitos que comemoram a novidade, mas a pauta dominou debates nas redes sociais. Toda a imprensa deu destaque à decisão da GloboNews. O estardalhaço foi algo, reitero, muito além do justificável. No fim das contas, se trata de uma opção da emissora na sua busca por manter liderança e protagonismo. Uma versão plausível. 

A decisão teve uma pesquisa como gatilho – uma informação que o Grupo Globo não confirma. Segundo levantamento da Quaest, o público identifica a GloboNews como “de esquerda”. Daí a opção por mudanças que “reorientem” a linha editorial, em nome de mais diversidade. Sendo isso mesmo, passa longe do razoável. Então é doideira demais.

“O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, eis o slogan surgido, salvo engano, na remota década de 1980. Eram os petistas, os brizolistas, os socialistas, todos pela raia da esquerda contra a televisão do mal. Muito tempo depois viriam a “Globolixo” e a “Globo comunista”. O caso Daniela Lima é um toque de requinte numa espiral sem fim.