Deltan Dallagnol é o símbolo de uma instituição degenerada. Na última década, o Ministério Público Federal permitiu que mequetrefes como este elemento ferissem de morte princípios incontornáveis no exercício de suas funções e prerrogativas. A Operação Lava Jato é o ápice de um movimento cujos estragos ainda estão na praça. Espera-se que o MPF tenha aprendido alguma coisa com essa tragédia brasileira.
Tragédia, sim, porque quando o sistema oficial adota práticas mafiosas, usando o aparato de leis para cometer crimes, algo se perde em definitivo. Foi o que fizeram o então procurador Dallagnol, um bando de colegas seus e aquele juizinho corrupto que trocou a toga por um ministério de Bolsonaro. Tinha de acabar mal – e acabou. Os doutores tinham um projeto de poder, como ficou claro quando explodiu a Vaza Jato.
Nesta terça-feira 29 de julho, saiu uma decisão histórica da Justiça. Dallagnol – que virou deputado e foi cassado por crime eleitoral – terá de indenizar o presidente Lula em 135 mil reais. Ele foi condenado por ter erguido um picadeiro com a imprensa para apresentar aquele PowerPoint – uma safadeza que acusava Lula por atos de ficção.
Foi em 2016, o ano em que o desmantelo político fez parceria com promotores, procuradores e juízes dispostos a “governar” o Brasil. Durante a entrevista coletiva para anunciar denúncia criminal contra Lula, Dallagnol chegou ao absurdo de citar crimes que sequer estavam nos autos da investigação. Como chegamos nesse buraco?!
Quando o tal procurador apareceu como paladino no combate à corrupção, logo ficou claro que boa coisa não estava a caminho. Dallagnol se apresentava em rede social como “rapaz de bochechas rosadas que usa óculos de aro fino”. Que coisa ridícula, não é mesmo? Pois com tais atributos intelectuais, ele partiu com tudo para faturar alto.
E aí começaram as palestras, os cursos e os seminários por todo o Brasil. Um membro do MPF correu o país ganhando muita grana para falar das investigações tocadas por sua turma. Mais adiante, os valentes do MPF de Curitiba resolveram criar um “fundo anticorrupção” que seria gerido por eles mesmos. Começaria com 2 bilhões de reais.
O dinheiro viria das multas aplicadas a acusados em variados crimes. Ou seja, os recursos públicos seriam privatizados na prática republicana dessas vestais. Inelegível por oito anos, Dallagnol deveria estar na cadeia por tudo o que fez, assim como seus parceiros de aventura. Não vai acontecer, mas a desmoralização não se apaga.
Para terminar, retorno ao começo. Torço para que o Ministério Público tenha mesmo avançado depois do rolo compressor dos vigaristas da Lava Jato. Práticas delinquentes devem ser combatidas em tempo integral. Afinal, não foi para avacalhar o Estado de Direito que a Constituição de 1988 deu tanto poder aos integrantes dessa instituição.