Eleição é pancadaria, uma briga muito pra lá de acirrada, voto a voto, com resultado imprevisível e diferença apertada entre o vencedor e o derrotado. Exemplo: o triunfo de Lula sobre Bolsonaro em 2022. Mas há exceções. Por circunstâncias sobre as quais não se tem controle, há disputas eleitorais majoritárias cujos resultados são conhecidos desde os primórdios das campanhas. Exemplo: a reeleição de JHC em 2024.

João Henrique Caldas, aliás, conhece os dois lados dessa realidade. Se no ano passado levou no primeiro turno, com 83% dos votos válidos, em 2020 passou sufoco diante da força de Davi Davino Filho e Alfredo Mendonça. A parada teve de ser decidida no segundo turno. Não há explicação única para determinar um panorama ou outro.

No âmbito nacional, alguns nomes que tiveram a sorte de eleições “sem adversário” nos últimos anos: João Campos (Recife), Jaques Wagner (Bahia), Eduardo Paes (Rio), ACM Neto (Salvador). Cito de memória, sem pesquisa detalhada a respeito. A ausência de um rival competitivo, reitero, decorre de fatores diversos em contextos instáveis. 

A virtual disputa sem a ameaça de concorrentes fortes também pode ser costurada – se vai dar certo ou não, é outra conversa. Este seria o caso de agora, quando tanto se fala do “acordão de Brasília”. Pelo arranjo, dá-se como certo que Renan Filho tende a sair do ministério de Lula para reassumir o governo alagoano. É a aposta que todos fazem.

Sim, para isso, ele precisa ganhar a eleição. Passo decisivo nessa direção é afastar da arena eventuais nomes de peso. É aí que entra o acerto que garante a não candidatura de JHC. E não há mais ninguém com potencial para encarar o ministro? Até tem, mas está do mesmo lado daquele acordão. Não há sinais de mudança nesse desenho.

Se tudo der certo para a turma do governo e da Assembleia, Renan Filho sai candidato com o mesmo favoritismo com o qual disputou – e ganhou no primeiro turno – as eleições para governador em 2014 e 2018. É um histórico bem diferente dos antecessores Téo Vilela e Ronaldo Lessa. Mais parecido com Divaldo Suruagy em 1994.

Ser eleito com uma goleada de votos não é garantia de êxito na gestão da máquina pública. O próprio Suruagy é exemplo trágico desse princípio elementar. Mas isso é outra história. Com as marcas próprias de cada situação, fato é que a turma que predomina na política alagoana arma outra eleição com desfecho antecipado. 

Já aconteceu antes, mas é um acerto meio arriscado com o futuro.