"O protesto do deputado federal Hélio Lopes, mais conhecido como Hélio Negão, em frente ao Supremo Tribunal Federal, é mais do que uma excentricidade política; é um sintoma agudo das contradições profundas do bolsonarismo e da forma como ele instrumentaliza corpos negros para validar um projeto de poder essencialmente racista e autoritário. A imagem de um homem negro, fardado de retórica patriótica, defendendo Jair Bolsonaro em frente ao STF, representa uma cena de autoaniquilação simbólica: é o corpo negro erguido como escudo para proteger um sistema que historicamente o oprime.

Hélio não é apenas fiel a Bolsonaro. Ele é, talvez, o exemplo mais extremo de como o bolsonarismo conseguiu cooptar símbolos para se blindar das acusações mais incômodas, no caso, o racismo. Bolsonaro, que nunca escondeu seu desprezo por políticas afirmativas, que zombou de quilombolas e que tem em sua base seguidores que se orgulham de símbolos escravocratas, encontrou em Hélio um verniz conveniente.

Um homem negro que o abraça, que o chama de irmão, que repete sua cartilha com devoção quase religiosa, cumpre uma função estética no espetáculo da política: a negação performática do racismo estrutural. É como se a própria existência de Hélio no cercadinho ou no plenário servisse de argumento para silenciar qualquer denúncia de preconceito. “Se temos um negro do nosso lado, como podemos ser racistas?”

Via:  @esquerdasexy