Por arte da ironia, para se defender das acusações que recebe, Bolsonaro recorre à vitimização. A palavra entrou no vocabulário da direita para justificar até a prática de tortura e a ação de milícias. Pois o mesmo valentão que decretou o “Acabou, porra!” choraminga hoje em dia como pobre vítima de “perseguição política”. Esse discurso veio com tudo nesta sexta-feira, após o ex-presidente ganhar uma tornozeleira eletrônica.

O uso do objeto na canela é uma das medidas cautelares que o sujeito terá de cumprir a partir de agora. Não pode sair de casa entre 7 da noite e 7 da manhã. Não pode usar redes sociais e nem se comunicar com investigados, incluído o filho Eduardo. A decisão do ministro Alexandre de Moraes atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República.

O STF “dobra a aposta”, dizem alguns analistas na grande imprensa. A iniciativa pode provocar novas ações de Trump – e aqui vai a descabida misturada de coisas que não se deve misturar. Mas é o que temos. Daí a pergunta que parece estar em todo lugar: com a novidade da vez, quem ganha e quem perde na guerra da comunicação?

Desde as primeiras horas da manhã, aquelas lideranças da extrema direita exibiam a conhecida histeria frente a câmeras e microfones. Socorro, a ditadura comunista chegou! Xandão, o Imperador do Brasil, persegue os democratas... E vai por aí o desfile de baboseiras no berreiro de Portinho, Zucco, Kicis e outros gigantes.

Moraes submeteu sua decisão à Primeira Turma, onde Bolsonaro e demais golpistas estão sendo julgados. Já formou maioria. O tribunal, dessa forma, dá uma resposta a Trump, ainda que isso seja involuntário. Sim, porque o motivo da operação de hoje é o perigo real de fuga do Jair Messias. Sobram indícios nessa direção.

A oposição tenta forçar o cancelamento do recesso no Congresso. Bolsonaristas querem usar o parlamento como base de tramoias em defesa do chefe. Parece que não vai colar. O comando do Legislativo não pretende virar sócio em aventura temerária.

Lula e o governo devem manter prudência. Como dizem por aí, jogar parado é a melhor tática a essa altura. O que interessa é enfrentar – e resolver – a ameaça tarifária de Trump. Defender empregos e empresas. A tornozeleira de Bolsonaro é com a lei.