No último dia 7 deste mês de julho, publiquei aqui um texto cujo título é uma pergunta: e se JHC não for candidato em 2026? Especulo que essa hipótese era até então praticamente descartada na imprensa. Desse o que desse, o prefeito de Maceió deixaria o cargo até abril do ano que vem, para disputar o governo ou o Senado. Entre outras razões porque esse foi o acordo fechado com Rodrigo Cunha, o hoje vice-prefeito.
Eu sei que você sabe, mas vamos lembrar: Cunha renunciou ao mandato de senador, hoje ocupado por Eudócia Caldas, mãe do prefeito, que era a primeira suplente do jovem de Arapiraca. Em troca, ele viraria prefeito em abril, partindo para a reeleição em 2028. É um acerto com muitas pontas amarradas e compromissos nada triviais.
Mas o que parecia sólido não resistiu a outo acordo. Dois dias depois de minhas especulações sobre os rumos de JHC, veio a notícia do “acordão de Brasília”. O prefeito não será candidato a nada, cumpre o mandato até 31 de dezembro de 2028. Foi o desfecho das negociações para Lula indicar a procuradora Marluce Caldas para o STJ.
Para garantir a canetada de Lula, JHC prometeu não disputar as eleições, o que facilita a vida de Renan Calheiros, Renan Filho e Arthur Lira. Juntos, todos fecham com o palanque do petista na guerra pela reeleição. O prefeito apoiou Bolsonaro em 2022. Filiado ao PL, João Henrique vai deixar a legenda – consequência automática – e voltar ao PSB.
Agora um aspecto que deixa as coisas meio nubladas. Sobre todo esse emaranhado de nomes, siglas, datas, cargos, declarações de apoio e promessas – o conjunto é amplo –, nenhuma palavra de JHC. Figura central no acordão, o homem mantém silêncio eterno. Aí começam os temores. E se o prefeito não cumprir com a palavra empenhada?
Pelo que li nas reportagens e em nossos colunistas, sim, essa é uma hipótese naturalmente cogitável. São os próprios aliados, os mais íntimos, que falam no projeto de uma candidatura que não está descartada. De todo modo, JHC vai quebrar um acordo – ou o que faz agora ou o que fez lá atrás com Rodrigo Cunha. Não há alternativas.
Costurado por meses, esse pacto acaba de vir a público, e já se fala em palavra dada sob suspeita. A desconfiança está no meio da sala. Estranho. Reza a lenda que cumprir o acordado é dogma, cláusula pétrea no exercício da política. Na real, nunca se sabe.