É sábado, saio ao centro da cidade, em compras.
Amo bater pernas no comércio de Maceió e seus cantinhos inusitados.
Entro em mais uma loja e, de repente, ouço chamarem o meu nome. Direciono-me em direção ao chamado e vi uma preta jovem , bem bonita, os cabelos trabalhados, em longas tranças.
Aproximou de uma forma expectante e perguntou:- Lembra de mim, Arísia?
Olhei seu rosto, desembalei lembranças, futuquei a memória e respondi que não.
-Eu entendo, você conhece muita gente.- disse, a moça e foi logo se apresentando:
-Eu sou a K. estive no Presídio Feminino Santa Luzia e lembro dos encontros afros que você realizava e como me tratou com tanta humanidade, que isso me marcou para sempre, Arísia!
Esta ativista ficou toda abestalhada de contentamento pela declaração emotiva da moça, e segurando a compostura , afirmou questionadora:
-Agora você tomou juízo, né?
E ela com um sorriso a mostra : Sim, tenho minha loja e estou tocando a vida.
E afirmou:- Nunca pude te agradecer e faço agora. Obrigada, Arísia, por todos os abraços que você me deu. Nunca esqueci de você.
O encontro com K., mulher negra, ex-reclusa e reinventando sua cidadania não foi marcado , mas, trouxe certezas e um prazer inenarrável , inigualável, de que ser contributo de mudanças sociais é possível..
E daí ao longo das dobras do tempo, da missão ancestral ininterrupta, faz bem 30 anos, muitas e tantas vezes levando à exaustão emocional, ,as pessoas perguntam a esta ativista, qual o ganho real do ativismo, ao qual me proponho?
Penso que o encontro com K, é feito uma amostragem de como o afeto, a humanização, aliados às oportunidades podem criar possibilidades verdadeiras, para que uma micro-afro-revolução, aconteça em vidas, geralmente, lidas , e naturalizadas, como descartáveis.
Precisa responder mais alguma coisa?
É isso!