A irrelevância de praticamente cem por cento dos integrantes do Legislativo estadual desestimula até a crítica. Vale o mesmo para o parlamento municipal em Maceió. Milagrosamente, acredite, há exceções nos dois casos. Sim, uns três ou quatro, não mais do que isso, têm serviço prestado e ideias que param de pé. Não vou nomeá-los – para não levantar suspeitas sobre os dois lados, o meu e o dessas raridades. Tá claro?

Toda vez que decido dar uma olhada nas sessões da Assembleia e da Câmara, deputados e vereadores conseguem superar minhas piores expectativas. Tem de tudo. Há os fanfarrões, de ontem e de hoje, com o tedioso discurso da macheza. A valentia de mostruário está nos veteranos do mundo rural e nos rapazes da geração TikTok.

As sessões revelam que, por aqui, os coronéis da velha política e os aspirantes a coronéis da “nova política” têm métodos e interesses compatíveis. Eles podem até entrar em conflitos pontuais, mas se acertam no mérito da causa. Naturalmente, há os lances que não vêm a público, sobre os quais não temos como avaliar o peso nessa relação.

Às claras, do plenário ou da tribuna, aí sim pode-se conferir a degradação generalizada. Em boa parte do tempo, um palavrório raso serve apenas para dar trabalho ao departamento de taquigrafia. Qualquer tema em debate acaba em vereditos sem pé, nem cabeça. Outro padrão é a vassalagem mútua, que rende episódios constrangedores.

Marca registrada entre os parlamentares é o hábito de ressaltar o inexpressivo. Há uma confusão permanente sobre as prerrogativas de deputados e vereadores. Daí porque a recorrente aprovação de projetos de lei que acabam no lixo, vetados pelo Executivo. A presepada mais comum é tentar legislar sobre matéria constitucional. Um vexame.

Como estamos na era das redes sociais, do extremismo e da pós-verdade, então, meu amigo, não tem perigo de dar certo. Obcecados por lacração no Instagram e outras redes, os representantes do povo desafiam a lógica e o senso do ridículo. Donos de um mandato eletivo, nossos legisladores se portam como se estivessem num plano paralelo.

Na verdade, sim, eles habitam um outro mundo – o dos privilégios descabidos, em todos os sentidos e em todas as áreas. Na Assembleia e na vereança, oposição é tão real quanto o Curupira e a mulher da capa preta. Uma coisa tem a ver com a outra. À mediocridade se juntam o casuísmo eleitoreiro e as benesses orçamentárias.

Seu voto não vai mudar o panorama. Porque essa é uma tradição de respeito.