Alda Barros é minha mãe, 93 anos , uma mulher negra, de pele clara, com imensidão de mundos e a experiência ímpar de ter sido  útero-casa para 10 filhos, destes,  2 mortos.

Minha mãe nasceu na época da submissão, do poder do patriarcado. ( ruim com ele, pior sem ele), mas, mesmo assim, tinha voz ativa.

Sempre foi  forte e enérgica ( uma Generala), entretanto, carrega consigo uma tradição da história excludente , que investe em apagamentos sociais, de gênero.

O lugar da mulher, e se ela for negra é duplamente, doméstico!

Minha mãe, Alda Barros, carregou universos díspares nas costas, abdicou da liberdade de ser pessoa, para criar filh@s, outras pessoas de jeitos e caracteres diferentes.

Ela não pôde ser, simplesmente, mulher. Vestiu-se de mãe ,superpovoada, de 10 outros seres humanos, como  mecanismo, inconsciente, de dar respostas sociais.

A sociedade impõe  padrões , geograficamente, limitados, principalmente às mulheres negras, pobres, periféricas, nascidas em épocas conservadoras,( um tanto escravizadas),  como no ano de   1932.

Um ano em que a  sociedade feito  algoz,  cultivou a submissão como dogma basilar. 

Stop!

E o mundo foi se alterando, mudando, com suas conexões desconexas  e todas nós sofremos a ação dessa  metamorfose ambulante.

Lembra, Raul Seixas?!

Minha mãe, aos seus 93 anos, envelheceu, e eu, como sua terceira filha , em ordem decrescente, também.

E no final de toda essa história somos, eu e minha mãe,  uma soma genética, de  desencontros pessoais, tempos diversos e agora,  energias que reverberam na descoberta da  essência dos afetos construídos, ao longo dessa trajetória. 

E com um olho perscrutando o passado e outro sussurrando futuro,  dei a Alda  Barros, minha mãe,  um casaco de frio cor verde esperança, para agasalhar a alma dos  tempos frios.

O tempo é um sujeito perdulário, gasta a vida da gente, em segundos.

É sobre amor construído e finitude.

Entendeu?