O general Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid vão para um tira-teima. Na terça-feira 24 de junho, os dois participam de uma acareação diante do ministro Alexandre de Moraes. Foi a própria defesa do ex-ministro de Bolsonaro que pediu o encontro cara a cara com o delator da ação penal. O julgamento avançou no STF após o depoimento dos oito acusados que integram o núcleo essencial da trama golpista.

Numa manobra para empurrar os prazos a um futuro a perder de vista, um dos advogados de Braga Netto solicitou o adiamento da acareação. José Luís Oliveira Lima queria remarcar a data, alegando viagem ao exterior. Se colar... Não colou. Moraes negou o pedido e lembrou que o réu tem seis defensores. A defesa está garantida.

Quando estiverem no STF, diante do ministro relator, os dois réus vão contar versões diferentes sobre um episódio envolvendo o financiamento do golpe. Mauro Cid afirma que recebeu do general um pacote de dinheiro “numa sacola de vinho”. Braga Netto nega tudo, é claro, e explica como era “esse negócio de dinheiro com o PL”.

E essa não será a única acareação no julgamento dos golpistas. A outra será entre o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Entre os dois, o dilema se dá sobre reuniões para tratar da chamada minuta do golpe. O encontro foi um pedido da defesa de Torres.

Na foto acima, o leitor contempla o general Braga Netto entre dois de seus advogados. O registro ocorreu no depoimento do militar ao ministro do STF. Durante dois dias, os oito daquele núcleo principal, incluindo Jair Messias, tiveram de se explicar à Justiça. Como se diz nas esquinas, o grupo de réus ficou pianinho. Nada de “acabou, porra!”.

Mas voltemos à foto de Braga Netto, porque é isso o mais importante. Ali, entre seus defensores, ele está na cadeia. Por isso, seu depoimento foi por videoconferência. Sim, um general golpista preso, sendo interrogado ao vivo, para audiência de todo o Brasil. Ele e seus parceiros de farda jamais imaginaram algo sequer perto disso daí.

Repare bem: serão duas acareações, envolvendo três integrantes do topo do Exército – esse antro que há mais de um século forma golpistas contra a democracia no Brasil. Delinquentes cheios de estrelas e condecorações estão à beira do veredito. Demorou, mas o país vence a tradição de impunidade para esse tipo de criminoso.