As milícias e as facções criminosas estão morrendo de medo. É que o Senado resolveu investigar as atividades desses grupos numa Comissão Parlamentar de Inquérito que está para ser instalada. A leitura do pedido para a abertura da CPI se deu nesta terça-feira 17 de junho pelo senador Davi Alcolumbre, o presidente da Casa. O pai da ideia é o senador por Sergipe Alessandro Vieira. O que você espera que saia daí?

Faz parte das prerrogativas do Legislativo. Claro, vamos investigar tudo, principalmente mazelas como o triunfo das milícias no Brasil, sobretudo nos grandes centros, mas não apenas. Lá se vão quase duas décadas desde que esses grupos começaram a escalar o poderio criminoso no Rio de Janeiro. Rendeu até Tropa de Elite, o filme.

Houve a CPI carioca. Sob a relatoria do então deputado estadual Marcelo Freixo, aos trancos e barrancos, as investigações apontaram sobrenomes de figurões da política fluminense. Como se conta no primeiro filme – houve uma parte 2 –, o relatório final também produziu uma matança no meio da bandidagem. Era “queima de arquivo”.

Afora o impacto inicial, com manchetes, algumas prisões temporárias e nenhuma condenação, o clima foi se acalmando e nada mudou. Ou melhor: ficou tudo muito pior do que era antes da CPI. Prova irrefutável disso é que os chefões milicianos receberam homenagens e comendas daquela família que governou o Brasil até ontem.

Como acabamos de ver na CPI das Bets, o desfecho está projetado. Alessandro Vieira diz que a comissão pode levar a novas leis para fortalecer o combate ao terrível problema. É sério isso? Já escrevi aqui sobre a antiga tradição legislativa de enxugar gelo com essa tara por engarrafar os códigos penal, civil e afins. É firula para o palanque.

O Ministério da Justiça apresentou um plano para enfrentar o crime organizado. Passa por uma alteração na Constituição. O Congresso Nacional e boa parte dos governadores não querem nem ouvir falar. Dá muito trabalho e demora para ter resultado eleitoral. Lacrar numa CPI é mais fácil, com efeitos imediatos sobre os “seguidores”.

Na real, o potencial de estrago que uma CPI tem é de natureza política. Para isso, precisa atrair o interesse da imprensa, com transmissões ao vivo pela TV. Quando isso ocorre, na largada já sabemos que vai dar samba. Mas essa variável está longe de garantir o alto nível dos trabalhos. Aliás, costuma ocorrer precisamente o contrário. Por aí.