Pelo que leio na imprensa alagoana, parece que a Polícia Militar é a culpada pela tragédia que resultou na morte de três pessoas em Maceió – um major, um sargento e uma criança. Suponho que o leitor sabe do que estou falando, portanto, não perderei tempo com os detalhes do enredo. Vou aqui abordar um aspecto que, salvo engano, quase não foi às manchetes: o machismo que produz matança de mulheres no país.

O major reformado foi o principal personagem de tudo o que ocorreu. Ele foi morto pela polícia após assassinar o cunhado e um filho de dez anos de idade. Mas seu alvo desde sempre era a ex-companheira. Ela escapou. Como se noticia, com frequência perturbadora, todo dia no Brasil um macho resolve acabar com a vida de uma mulher.

O motivo é o de sempre. O sujeito não aceita o fim de um relacionamento. Para ele, a outra pessoa é sua propriedade, sem direito a escolha sobre o próprio destino. O major não fez o que fez porque a PM seria negligente com a saúde mental da tropa. Não esqueçamos: ele estava aposentado, longe da pressão da rotina de trabalho. 

Segundo o mais recente Mapa da Segurança Pública, que acaba de ser divulgado pelo Ministério da Justiça, o índice de feminicídio segue nas alturas. Foram 1.459 casos em 2024, o equivalente a quatro mulheres assassinadas por dia. Esse descalabro é um dos maiores desafios para qualquer governo – menos para quem acha que é tudo “mimimi”.

É evidente que as forças de segurança no país inteiro estão longe do ideal na formação de seus integrantes. Basta ver o que a truculência policial apronta nas periferias de Norte a Sul. Mas não vamos confundir as coisas, nem fabricar uma ligação descabida entre causas e efeitos de maneira superficial. Explicação fácil para problema grave é piada.

Até onde se sabe, a maioria dos assassinos responsáveis por feminicídio não veste farda de corporações policiais. Se a violência contra a mulher tem a ver com “saúde mental” do homem, vamos socorrer político, advogado, empresário, jornalista etc. Todas essas categorias devem recorrer urgentemente aos cuidados de um psicólogo.

De volta ao caso concreto, o major Pedro Silva tinha histórico de violência doméstica. Havia sido preso em janeiro, com base, vejam bem, na Lei Maria da Penha. Isso não tem relação nenhuma com “pressões” das atividades na PM – realidade da qual, reitero, ele não fazia mais parte. A ação deste senhor é o retrato do machismo que mata sem parar.

Encerrando. Vejo que depravados da política já sacolejam brilhantes ideias para “cobrar medidas” que protejam “o psicológico” de nossas polícias. A demagogia repugnante não perde uma janela de oportunidades. Na vida real, o machismo que elimina a vida de tantas mulheres é até incentivado por essa mesma escória da política brasileira.