Chega ao fim de forma melancólica a CPI das Bets no Senado brasileiro. O relatório da senadora Soraya Thronicke foi rejeitado por 4 votos a 3. Não há surpresa nenhuma quanto ao desfecho da comissão que deveria investigar a atuação dessas empresas de apostas. O resultado estava desenhado desde o começo das atividades, em novembro do ano passado. O Congresso está tomado por lobistas desse negócio mafioso.

A conivência do parlamento com os esquemas das chamadas bets é gritante. Uma prova: foi um sufoco conseguir senadores interessados em participar da CPI. Ao contrário do que sempre ocorre, ninguém brigou para fazer parte do colegiado, ninguém se esforçou para ganhar holofotes naqueles embates tão comuns nessas ocasiões.

Estranho, não é? O que você vê com frequência, quando da criação de uma CPI, é uma guerra sanguinolenta para se alistar como integrante. Na disputa pelos cargos de presidente e relator, periga sair até socos e pontapés. Com as bets, nada. Nos bastidores, mas também às claras, houve sabotagem para a instalação da comissão.

E os sabotadores continuaram agindo durante o período de trabalho. Membros da CPI agiram para barrar depoimentos de empresários. Claro. Parlamentares têm campanhas eleitorais financiadas pelos potenciais investigados. Nos casos em que não conseguiram impedir a convocação dos suspeitos, senadores blindaram os amigos nas sessões.

O caso mais escancarado de “conflito de interesse” – um eufemismo – foi o do senador Ciro Nogueira, o gângster presidente nacional do PP. Ele era membro suplente da comissão. Pois com a CPI em andamento, no fim do ano passado, ele viajou a passeio para a Europa num jatinho de um empresário dono de bet. Ilustração da bandidagem.

A empresa do chapa de Ciro Nogueira atua, entre outras coisas, com o tal jogo do tigrinho, comprovadamente um mecanismo fraudulento. Esse é o homem que aparece na propaganda política do PP em defesa da honestidade e da ética na política. 

O relatório da senadora Soraya Thronicke também não é lá grandes coisas. Pede o indiciamento das influenciadoras Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, além de outras 14 pessoas. A culpa das duas senhoras citadas não ficou demonstrada cabalmente. Parece coisa para a arquibancada. Os maiorais do esquema criminoso não aparecem.

Eis o Congresso Nacional do país, muito preocupado com a urgência do corte de gastos para “equilibrar as contas e distribuir riqueza ao povo brasileiro”. Assim fica difícil. Como reagir a tamanho descalabro? Minha proposta é que seja instalada de imediato uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito: A CPI da CPI das Bets no Senado.