Durante os quatro anos como presidente da República, Jair Bolsonaro esbravejou contra o STF, desferiu ofensas de todo tipo e, mais de uma vez, ameaçou nada menos que descumprir decisões de Alexandre de Moraes. Nessa direção, no auge da guerra aberta contra o tribunal, decretou: “Acabou, porra!”. Caso tivesse cumprido a ameaça, o país estaria diante de uma quadra inédita. Mas a valentia ficou no discurso do fanfarrão.

Jair também garantiu ao país que não deixaria o poder em nenhuma hipótese, mesmo com uma eventual derrota nas urnas. Em suas palavras, “somente morto” sairia do cargo. Os seguidores mais apaixonados acreditaram. Veio a eleição, ele foi derrotado, tentou um golpe, não conseguiu e partiu pela porta dos fundos. Está Vivinho da Silva.

Nesta segunda-feira, 9 de junho, começa uma nova fase do julgamento dos golpistas no Supremo. Bolsonaro e seus principais cúmplices estarão no banco dos réus para dar explicações à Primeira Turma do STF. O tribunal reservou cinco sessões, até a próxima sexta-feira, para os depoimentos do núcleo essencial da trama criminosa.

Enquanto esteve “com a caneta na mão”, o então presidente jamais imaginaria um cenário como este. Afinal, ele acreditava mesmo que, com sua gritaria, tinha poderes para “acabar” com qualquer coisa. Apesar de tudo, não é que o país resistiu? Sim, Bolsonaro teve de engolir a solidez das instituições. A bandalheira de 1964 não volta.

Vamos lembrar que, ainda na presidência, o sujeito berrava que poderia, a qualquer momento, dar a ordem às Forças Armadas – “o meu Exército” – para detonar geral. De novo, palavras ao vento. E assim foi porque, reitero, ele podia muito, mas não o suficiente para atropelar as instituições. Não à toa, generais também estão sob julgamento.

Ao contrário do regime ditatorial que defende, Bolsonaro responde por seus crimes segundo as regras do devido processo legal. A ele e aos demais aventureiros golpistas é dado o amplo direito de defesa – incontornável numa democracia. Tudo muito diferente de um regime de exceção cujos métodos esse delinquente defendeu a vida inteira.

Bolsonaro tem advogados que podem recorrer a todos os meios legais para defendê-lo. O réu pode falar o que bem quiser durante o depoimento. Sim, ele vai responder a perguntas do ministro Alexandre de Moraes, aquele cujas decisões o valentão iria descumprir. A partir de hoje, um novo capítulo começa a ser escrito na história do país. 

É uma etapa crucial para a sequência do julgamento. Diante do que houve até agora, a expectativa é de que as sentenças saiam até o fim deste ano. O conjunto de provas sinaliza para a condenação dos marginais civis e militares. Tudo dentro da legalidade.