Na Folha de S. Paulo, Romeu Zema, governador de Minas, acha que classificar de ditadura o regime instaurado no país em 1964 “é uma questão de interpretação”. Com um cinismo desmedido, esse desqualificado afirma que “nunca se aprofundou” sobre o tema – por isso, entende que falar em ditadura é coisa “para os historiadores”. Esse tipo de delinquência política se espalhou pelo país e turbinou a extrema direita.

Aqui em Alagoas, há vigaristas com mandato eletivo que pensam a mesma coisa. Segundo esse pensamento imundo, o que houve em 64 não foi golpe – foi um movimento de combate ao comunismo. Seis décadas depois, o Brasil andou para trás. Nunca se viu tantos mequetrefes da política na defesa de governo que tortura, sequestra e mata.

Que uma direita defenda seus valores dentro das regras do jogo, está tudo certo. Mas não é isso o que fazem a porcaria de Zema e outros de mesmo quilate. O que essa gentalha ultrarreacionária prega é um Estado que normaliza o hediondo crime de torturar adversários políticos. Desse caldo podre, saíram Bolsonaro e assemelhados.

Não se pode esquecer o que vimos nos últimos anos: foram incontáveis passeatas sob o slogan “intervenção militar com Bolsonaro presidente”. As ruas de Maceió se encheram de “cidadãos de bem” e “defensores da família” que imploravam por uma nova ditadura. Não deu certo para esses idiotas, mas eles seguem sob os mesmos “ideais”.

Esse é o padrão “democrático” de trepeças que poluem casas legislativas Brasil afora, num retrocesso político brutal. Em cada Câmara ou Assembleia, acanalhados surfam na onda extremista cujo representante maior ainda é Jair Messias. Digo “ainda” porque há uma fila de candidatos para assumir o lugar desse apologista da bandalheira golpista.

Romeu Zema é apenas um dos que estão de olho no posto do “mito”. A briga é feia para ver quem é mais despudorado na defesa de ideias antidemocráticas. Tarcísio de Freitas e seu secretário Guilherme Derrite apostam na matança pelas periferias paulistas. De Goiás, Ronaldo Caiado pede passagem para provar que ele é mais matador. 

Nessa filosofia da violência de Estado contra as populações vulneráveis estão as maiores estrelas do bolsonarismo. “Temos ódio e nojo da ditadura”, cravou Ulysses Guimarães no ato de promulgação da Constituição de 1988. Trinta e sete anos depois, os carniceiros do golpe de 64 são reverenciados por prefeitos, governadores e parlamentares. 

Não é sobre direita e esquerda. É sobre defender a democracia de bandidos.