Se estiver “bonitão” como agora, Lula não vai deixar que a extrema direita volte a governar o país. Foi ele mesmo quem disse isso, durante discurso no Recife, neste domingo primeiro de junho. A fala do presidente se deu no evento do PSB que elegeu o prefeito João Campos para presidir a legenda. O marido de Janja estava cheio de otimismo e disposição, segundo informa a cobertura da grande imprensa. Faz sentido?
Não. Se os critérios para avaliar o cenário político são os acontecimentos que dominam a pauta, a resposta negativa se impõe. Do escândalo do INSS à insanidade que foi o tal aumento de IOF, o noticiário segue abrindo estragos na imagem do governo e na reputação de Lula. A oposição parece fazer carnaval diante do panorama.
As confusões no Congresso Nacional seguem igualmente criando problemas ao Planalto. Nos últimos dias, Hugo Motta e Davi Alcolumbre se mostraram mais assanhados nas investidas para chantagear o governo. O presidente da Câmara e o chefe do Senado repreenderam Lula publicamente. A subida de tom marca uma inflexão imprevisível.
Ou nem tanto. Motta estava no mesmo evento do PSB no qual o presidente exaltou seus dotes esteticamente políticos, digamos assim. Mas fato verídico mesmo é que o clima entre os chefes dos dois poderes azedou em alguma medida. Para piorar, os problemas do governo no Congresso vão muito além da turbulência com Motta e Alcolumbre.
A velha imprensa também subiu o tom quando o assunto é a economia. “Descalabro fiscal”, acusa editorial da Folha. Lula “sendo irresponsável como sempre”, segundo o Estadão. E vai por aí. É quase impossível encontrar economista nas páginas da mídia que defendam outro ponto de vista. O tom é de calamidade generalizada.
Nesse ponto, boa parte do jornalismo parece concordar com Valdemar da Costa Neto, na propaganda do PL: “Se está tudo caro, que saudade do Bolsonaro”, diz o mandachuva do partido na TV. É demais. Mas é do jogo, claro. Marqueteiros estão aí para isso mesmo – para materializar na comunicação a fantasia da política. Tudo nos antigos padrões.
A percepção de que a vida no país está uma desgraceira resume as manchetes. “Acabou a liberdade”. “Estamos numa ditadura do Judiciário”. Inflação. Violência. Educação e saúde em situação de penúria. Etc. É o que dizem os adversários do governo e os inimigos de Lula. Como se vê, a parada não é nada tranquila para o petista.
Bem, mas ele não pensa nada disso. Na semana passada, já havia feito declarações “assertivas” (desculpem). Agora, exibe essa desenvoltura em terras pernambucanas. Trabalho de Sidônio Palmeira na comunicação? Instinto do animal político? Seja como for, na verdade é um caminho natural, obrigatório. Quer dizer, será mesmo?