Nos últimos dias, reapareceu a “bancada da Santa Casa”. Já ouviu falar desse exotismo? É coisa antiga. Nessa frente ampla em defesa do milionário negócio hospitalar, há políticos, empresários, jornalistas, advogados, figurinhas e figurões da máquina pública alagoana. Quando o império “filantrópico” vai pra guerra, mobiliza sua artilharia infiltrada em territórios públicos e privados. O objetivo, claro, é saquear os cofres do Erário.
Há uma década, a Santa Casa de Misericórdia de Maceió esteve nas manchetes policiais. Um esquema de fraudes tributárias levou a Polícia Federal a deflagrar a Operação Iscariotes. A acusação: a cúpula do complexo de hospitais teria lucrado mais de 20 milhões de reais num intricado rolo com títulos “podres” da dívida pública.
O escândalo ficou pelo meio do caminho, num desses casos em que, após o barulho inicial, tudo evapora nos corredores de órgãos e instituições. Que fim levou tudo aquilo? Não há dados sobre avanço da investigação para esclarecer os fatos. E olhe que houve até um acordo de delação premiada do principal operador da maracutaia.
Lembrei dessa quadra sombria da Santa Casa após notícia sobre a crise numa maternidade administrada pela empresa de saúde. Segundo a direção, a Maternidade Nossa Senhora da Guia, localizada no bairro do Poço, na capital, fechou as portas para gestantes que precisam do SUS. Eram 60 leitos. A culpa seria do governo estadual.
Para chamar atenção, a direção exibe uma faixa no prédio com aviso em letras gigantes: “Maternidade fechada”. Além disso, tapumes foram postos no acesso ao local para, segundo a TV Gazeta, “impedir a entrada de pacientes”. É uma forma de chantagem. A Santa Casa diz que, nos últimos três anos, o governo atrasa um repasse de verbas.
A Secretaria de Saúde dá uma informação crucial sobre o tumulto. A pasta convocou a turma da Santa Casa para esclarecer um problema reincidente: os doutores da filantropia precisam explicar os “reiterados processos permeados de irregularidades” na aplicação dos recursos. Além disso, não há “comprovação dos serviços realizados”.
Em maio de 2020, auge da pandemia de Covid-19, ouvi diretamente de uma autoridade na saúde pública a seguinte afirmação, em forma de desabafo e indignação: “A Santa Casa não pode receber repasse do SUS e, depois, escolher paciente”. Entenderam?
A Defensoria Pública entrou no caso. Tomara que esclareça junto ao império de saúde privada a recusa em prestar contas do dinheiro que recebe do Estado há mais de uma década. E que o governo garanta o serviço a todas as mulheres que precisam de atendimento. Há estrutura para que isso ocorra. A Santa Casa não pode levar no grito.