Acabo de descobrir a essência da nossa “identidade cultural”. Quem fez tal revelação foi o prefeito de Maceió, o instagramável João Henrique Caldas. Segundo esse exemplo de renovação da política brasileira, o que nos representa pra valer é o Rancho do Maia. Trata-se do megaevento organizado pelo humorista Carlinhos Maia em São Miguel dos Milagres, litoral norte de Alagoas. Finalmente, algo para nos orgulhar.

Num vídeo postado nas redes sociais, o influencer de Jaraguá e prefeito da capital nas horas vagas conversa com o anfitrião do rancho. Maia pede uma declaração do filho de João Caldas sobre o evento. JHC fala isto aqui: “Demonstra a força da nossa cultura. É a nossa identidade nordestina mostrando a nossa força pro Brasil inteiro”. É sério?

Identidade. Cultura. Nordeste. Brasil. Nunca tantos conceitos e ideias foram embalados num pensamento com tamanho alcance. Seria preciso rever Gilberto Freyre, Sérgio Buarque, Dirceu Lindoso, Câmara Cascudo e tantos outros que tentaram se aproximar de algo historicamente chamado de “identidade nacional”. Sabiam de nada!

Na visão do homem público que está sentado na cadeira de alcaide da província, a “cultura nordestina” é Safadão, um dos artistas mais celebrados na festança do Maia. Detalhe que acrescenta um toque, digamos, globalizante às tradições do Nordeste: a decoração do rancho e convidados exalta o Egito. É um caldeirão multicultural.

O prefeito que está em campanha para 2026 – será candidato a governador ou a senador – foi ao rancho no último domingo. Maceió já estava em calamidade sob a chuva que até hoje não parou. Mas tudo bem. O importante é celebrar nossos valores culturais.

Aposto que alguém na prefeitura de Maceió já deve estar pensando numa proposta incontornável: como virou moda por aqui, vamos elevar o Rancho do Maia à categoria de patrimônio imaterial da cultura alagoana. Pau a pau com o Pinto da Madrugada.