A rua era a grande casa de Quitéria, que conjugava em si todas as vulnerabilidades do mundo: mulher  preta, pobre, idosa e alcoolista.

Na pós da pseudo abolição de 1988, o álcool se tornou um problema para  escravizad@s ‘libert@s’.

Dormia  sob a imensidão do firmamento, deixava a coragem em alerta para o enfrentamento à maldade humana e das noites muito friorentas.

Sem ‘casa’ para voltar, muitos escravizad@s ficaram a deus-dará, na mendicância.

Quitéria viveu muitos meses de maios , em situação de rua, sem regras, sem comida, sem conforto e sob a indiferença social.

Foram muitos maios que esta ativista encontrou Quitéria assombrada pelo sentimento do nada ser, o cabelo cortado na maquina  zero para dar um basta a infestação, recorrente, de piolhos. 

Foram muitos  meses costurando anos, até que um dia (eureka!), a equipe da abordagem social da Prefeitura de Maceió, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Primeira Infância e Segurança Alimentar (Semdes) convenceu Quitéria a entrar em  um processo de reabilitação.

Vamos tentar?

Quitéria topou e (Que legal!) faz um ano que trocou as ruas por lençóis limpos, banhos diários, comida à mesa e um emprego remunerado.

E no maio pós abolição (1988 é logo ali!), a rua deixou de ser moradia de Quitéria preta, mas, muit@s e tant@s outros pret@s, continuam como  engolidores dos próprios sonhos.

Quais são os sonhos de quem  ‘possui’ a vastidão do mundo, como cômodos de uma casa inventada, a naturalização do racismo e os chicotes contemporâneos?

Terão pret@s moradores em situação  de rua, herdeiros diretos da pós abolição de 1988, um  sonho encantado que faz iluminar o brilho do olho, de quem as vezes, não tem nem dentes, nem alegria para sorrir?

E em busca de respostas, o  Instituto Raízes de Áfricas em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Primeira Infância e Segurança Alimentar (Semdes)  realiza dia 13 de maio, Dia Nacional de Denúncia Contra o  Racismo , na orla de Jatiúca,Maceió  uma Escuta Ativa, cujo tema é Rastro do Racismo: Minha Casa é  a Rua.

É um momento especialíssimo para uma conversa coletiva sobre ‘sonhos’,  cujos  protagonistas são herdeiros da pós abolição, herdeir@s da brutalidade da exclusão racial.

O Rastro do Racismo: Minha Casa é  a Rua conta com o apoio  da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Maceió, Defensoria Pública Estadual e Ministério Público Estadual.

E, ainda  tem a Quitéria para contar sua história.

É sobre isso!