Candidato a prefeito de São Paulo no ano passado, o dublê de jornalista Luiz Datena deixou como legado político uma cadeirada num adversário durante debate na TV. Eduardo Leite deixou o governo do RS para ser candidato a presidente, meteu-se em vexame ao lado de João Doria e concorreu de novo a governador. A pernambucana Raquel Lyra troca de galera e parte para encarar seu maior desafio, até agora, na política.
Em comum, Datena, Eduardo Leite e Raquel Lyra são nomes do PSDB. Ou melhor, eram do partido até um dia desses. Os três ilustram em parte o tumulto pelo qual passa a legenda que um dia governou o país e parecia dono de lugar cativo na política nacional. A partir de 2014, as coisas começaram a desandar após a derrota de Aécio Neves.
Naquela disputa com Dilma Rousseff, faltou muito pouco para o tucanato retomar a Presidência da República. A diferença de votos foi tão apertada, que Aécio decidiu contestar o resultado legítimo das urnas. É uma ironia que mais adiante Bolsonaro e sua legião de devotos tenham investido na delinquência contra a urna eletrônica.
Na eleição de 2018, o que já estava ladeira abaixo veio fulminante ao buraco sem fundo. Destroçado pela guerra interna, o PSDB tentou de novo a presidência com Geraldo Alckmin. Foi uma das maiores humilhações que um grande partido já viveu em eleições brasileiras. No arrastão bolsonarista, o candidato tucano teve votação de “nanico”.
Desde então tudo piora em meio aos escombros do que sobrou daquela potência, um dia formada por estrelas como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Serra. A aventura com João Doria foi talvez o primeiro sinal do que estaria por vir. O partido se deixou levar pelo farsante gomalinado e seu papo furado de “antipolítico” e “gestor”.
É uma parada duríssima se recuperar sob o comando de alguém como Aécio Neves. Toda vez que ele aparece com seus planos para um “Brasil sem essa polarização”, soam na atmosfera aquelas palavras sobre receber uma grana da JBS. Mesmo livre da denúncia, o registro de sua voz provoca um mal-estar sem aparente recuperação.
O último lance do PSDB na tentativa de sobreviver com alguma relevância é uma fusão com o Podemos – o que já foi aprovado pelos dois lados. É um tanto melancólico. O novo agrupamento adotará o número 20 (que é do Podemos). O 45 dos tucanos será enterrado para sempre. Ainda assim Aécio jura que isso tudo revigora a velha casa.
Com as desfiliações de Raquel Lyra e Eduardo Leite, a sigla encolhe ainda mais. Na política nada é impossível, nem definitivo. Em tese, a velha legenda pode voltar a crescer, mas não é isso o que parece pintar no horizonte. Na bagunçada cena dos partidos brasileiros, todo mundo se mexe, todos atiram pra todo lado, em cenário imprevisível.