Na capital alagoana, e em boa parte do estado, há uma carência estrutural que vai além da disputa institucional ou da ausência de mandatos: falta lugar de encontro. Falta espaço físico e simbólico onde a esquerda possa se reconhecer, se cuidar, se escutar, celebrar e também divergir sem se destruir. Espaços de convivência, de troca afetiva, de construção de confiança e sociabilidade colaborativa simplesmente não existem, ou, quando existem, são rapidamente esvaziados pelo cansaço, pela competição ou pelo isolamento.
O que temos, majoritariamente, são trincheiras. E dentro dessas trincheiras, muitas vezes, nos voltamos uns contra os outros. A esquerda em Alagoas, sobretudo na capital, vive em disputa consigo mesma. O que poderia ser potência coletiva vira fragmentação. E, em vez de estarmos lado a lado para enfrentar nossos verdadeiros adversários — os que concentram poder material, midiático, político e simbólico — nos engalfinhamos por espaços de micropoder: uma cadeira no sindicato, um voto no conselho, uma vaga na comissão, uma liderança num DCE, uma fala num evento. É dentro dos nossos próprios partidos. É entre agrupamentos que já estiveram do mesmo lado.
Chegamos sempre atrasados à luta maior, exaustos de batalhas internas, atravessados por mágoas e silêncios. Quando é hora de compor um movimento mais amplo, de firmar alianças reais, já estamos feridos demais. Falta entre nós o mínimo de empatia, de escuta ativa, de reconhecimento dos nossos diferentes percursos políticos e das nossas ancestralidades diversas. A disputa apaga o afeto, o projeto e o sentido de comunidade.
Há um apagamento sistemático e às vezes deliberado de quem construiu caminhos, ocupou ruas, enfrentou regimes, formou gerações. Não raro, a trajetória de quem veio antes é tratada como folclore, como exagero ou como obstáculo. Tudo começa agora. Tudo é de hoje pra frente. O passado é descartado como se fosse um fardo e não um fundamento.
Essa recusa da memória, aliada à fragmentação cotidiana, nos faz bater cabeça. Repetimos ciclos, sabotamos pontes, isolamos vozes, perdemos força. E, sobretudo, nos tornamos incapazes de cultivar espaços onde seja possível simplesmente estar: conviver, rir, comer, cantar, planejar, discordar com dignidade. Falta um terreiro da esquerda. Um bar nosso. Uma casa comum. Um chão firme onde possamos lembrar que antes de sermos militantes, somos gente. E gente precisa de calor, de troca e de pertencimento.
Enquanto isso não for prioridade política, seguiremos perdendo tempo, perdendo gente e perdendo lutas.