Lula acaba de trocar o comando no Ministério da Mulheres. Sai a petista Cida Gonçalves e entra a também petista Marcia Lopes. A nova titular no alto escalão já foi ministra do Desenvolvimento Social no segundo governo Lula – mas ninguém lembrava desse detalhe. Mais uma vez, a troca foi antecipada pela imprensa após vazamento do governo. A deselegância – pegando leve – é regra no modo como Lula age nesse campo.
É o modo de demitir um colaborador por meio do jornalismo de recados. Lula faz isso desde os tempos de Cristovam Buarque, Aloizio Mercadante e Marina Silva. Cida Gonçalves teve de ler e ouvir, em todas as plataformas e suportes, que o presidente “não estava satisfeito com o desempenho da ministra”. Quem disse isso? Jamais saberemos.
O Planalto não desmente a informação publicada e, por via infame, expõe a antiga aliada a um papel constrangedor. Por que tornar esse processo uma sessão de vexame para o demissionário? A ex-ministra da Saúde Nísia Trindade passou por semelhante ritual de “fritura”, o termo consagrado para sintetizar as mazelas de espetáculo descabido.
A demissão de Cida Gonçalves chama atenção para outro aspecto. Em janeiro de 2023 Lula subiu a rampa ao lado de militantes de minorias e grupos vulneráveis da sociedade. Um recado de civilidade frente a uma onda de ódio e intolerância. Defesa dos direitos humanos, combate ao racismo, um novo tratamento aos povos indígenas.
O controverso debate sobre identitarismo levou Lula-3 na direção de pautas vistas com desprezo pela direita – a extrema e a moderada. Mas até agora, no terceiro ano de mandato, o que seria um projeto transformador, um marco até para o cenário mundial, não foi além do falatório. Não há qualquer perspectiva de mudança de rumo.
Porque, pensando bem, quais os projetos marcantes na pasta da Igualdade Racial, da ministra Anielle Franco? E de Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, o que se tem para mostrar como avanços? No Ministério dos Direitos Humanos, Silvio Almeida caiu sob acusações de assédio sexual, num caso em que o governo mandou muito mal.
Não se trata de defender uma gestão baseada no “identitarismo” – seja lá o que isso signifique. Trata-se de defender a vida. Falta uma imensidão de coisas para o governo elevar as áreas representadas nesses ministérios a um patamar de prioridade absoluta. O que está aí, há quase dois anos e meio, é um arremedo. Muito discurso, zero de avanços.