Na manhã desta sexta-feira recebi mensagem da querida, Patricia Mourão, falando da despedida de sua mãe, Laurita Mourão.
Impossível não ficar com o coração entristecido.
Laurita é especialíssima, porque vinda de uma outra geração dialoga com a biologia da esperança, sem fazer o mínimo esforço.
Conhecer Laurita foi como mergulhar em um oceano de muitas possibilidades.
Um oceano cheio de braços que se elastecem, para abrigar gentes e suas concepções.
Eu, pessoa árida de partilhar o convívio de casas alheias, decididamente, amei ser hóspede na casa de Laurita, em Copacabana.
Quando chegava das ações das quais participei no Rio de todos os janeiros, em maio de 2019, me saudava com um:- Sente aqui. Quer uma cerveja gelada? Como foi lá? Foi agradável? Era o que você esperava?
Um diálogo tão profundo, como exercício de compreensão e entendimento de novos valores, dos meus valores, que eu toda boba ficava ali apreciando e curtindo a afabilidade da querida mais nova amiga.
E aí, agora matuto Laurita Mourão, sem folhear a sua biografia pessoal, mas lembro da mulher que bancou todos os amores que teve, sem temer falatórios mundanos.
Uma mulher que bancou sua felicidade e sem saber, se construiu na simbologia do feminismo de Beauvoir.
Ou sabia?
Penso que a vida da gente é feita de muitas trajetórias e uma delas é fazer-se pessoa no coletivo de emoções, e em meu coletivo pessoal, hoje existe uma carinho incomensurável e uma grande saudade de Laurita, a mulher que me ensinou que mereço muito mais do que o máximo. E ela disse tudo isso sem articular palavras. Apenas no gesto de agregar e acolher.
Laurita era uma senhorinha espetacular, com histórias marcantes e cheias de profundezas.
Trazia em si uma alegria visceral, inflada pela vontade, incomensurável, de apreciar a imensidão dos mundos.
Ô, querida Laurita, como me senti acarinhada, cuidada pelo teu zelo tão singular.
Tenho guardado na estante da sala de casa o teu livro “À Mesa do Jantar", de 1979.
Me sinto agora um pouco órfã.
Tu és a senhora dona das melhores histórias das Repúblicas e os bons buchichos dos bastidores.
Lembro da alegria genuína com a qual abraçou a pretinha, boneca que dei de presente..
É uma honra , para meu coração, ter convivido um pouquinho com você.
Mas, essa escrevinhação não é de lamento, querida.
É apenas para reafirmar que você deixa um vácuo no coração de muita gente, porque tu é arretada, por demais, mulher.
Quando estiver com São Pedro, o velho bonachão, conta a ele que você só gosta de café amanhecido, um costume que aprendeu com os franceses.
Vai que Ele te ofereça um café quentinho!?
Vou sentir saudades, querida, mas de uma coisa carrego a certeza:- Você exerceu com maestria a tua vocação terrena.
Nunca mais haverá outra, como você!
Descanse, em paz!
Abraços em seu coração, querida Patrícia Mourão e a toda família.

