Quando Sérgio Moro negociou a toga por uma cadeira no ministério de Jair Bolsonaro, lá em 2018, muitos de seus coleguinhas de profissão fizeram questão de se manifestar publicamente. Todo mundo queria bajular o escolhido para ocupar o cargo de ministro da Justiça. Uma das iniciativas mais ridículas partiu de um grupo de 149 juízes da Justiça do Trabalho. Em nota, exaltaram o desempenho do juiz Moro – “exemplar e republicano”.
Um dos juízes que homenagearam o “herói” de Curitiba foi Luiz Fernando Henzel. Ele divulgou a nota em suas redes sociais. Vejam bem o que dizia o texto bajulatório: “Nós, Juízes do Trabalho signatários, congratulamos o juiz federal Sérgio Fernando Moro pela aceitação do convite para ser ministro da Justiça do governo recém-eleito. Seu trabalho exemplar e republicano na magistratura o credencia ao novo posto”. E vai piorando.
O texto é de uma mediocridade à altura de certos doutores das ciências jurídicas. O melhor mesmo está no desfecho da nota: “Expressamos votos de sucesso no enfrentamento da corrupção e dos altos índices de criminalidade que assustam a sociedade brasileira”. É uma peça para a História – ensina o que nunca se deve fazer em ocasiões semelhantes. Uma lição para ninguém mais passar vergonha.
Por que isso agora? É que acaba de sair uma notícia sobre uma operação da Polícia Federal em Canoas, Região Metropolitana de Porto Alegre. A PF apreendeu três carros de luxo, e a Justiça bloqueou 14 imóveis avaliados em 20 milhões de reais. Todo esse patrimônio – fruto de corrupção – está em nome de Fernando Henzel, ele mesmo, um dos magistrados que celebram Moro como o caçador de corruptos. Não é desconcertante?
O esquema do honesto juiz de Canoas, um exemplar cidadão de bem, fraudava leilões judiciais que rendiam repasses para ele. Um dos crimes pelo qual responde é o de corrupção passiva. Esse arauto da idoneidade na vida pública brasileira está afastado do cargo desde dezembro do ano passado. Desonrado, é provável que o gigante da magistratura gaúcha seja severamente punido com aposentadoria compulsória.
Sérgio Moro é e sempre foi um farsante. Corrompeu as regras do processo judicial – e se corrompeu por uns trocados e um carguinho no governo do criminoso Bolsonaro. Mequetrefes da política alagoana ainda tentam enganar o eleitorado com o papo furado de “combate à corrupção”, sob inspiração no juizinho picareta da Lava Jato.
É preciso muita cegueira ideológica, ou fanatismo, para dar crédito a ilusionistas que pregam honestidade aqui e embolsam uma propina logo adiante. É precisamente esse o padrão Moro. Na real, temos corruptos gritando “pega o ladrão”. Um clássico.