O crime organizado se infiltrou na política de modo generalizado. A turma da extrema direita e do bolsonarismo tentou emplacar uma onda de denuncismo contra a suposta ligação da esquerda com essa bandalheira. Um delegado bravateiro de Alagoas, que usa o cargo para fazer politicagem, repete essa papagaiada em sua militância arrivista. Quem gosta de bandido é esquerdista, cacarejam os xerifões que detonam nas periferias.
Na campanha de 2022, Lula foi vítima desse discurso delinquente. No governo, o então ministro Flávio Dino esteve no alvo do mesmo tipo de acusação falaciosa após visitar a favela da Maré no Rio de Janeiro. Foi em março do ano passado. Na ocasião, Eduardo Bolsonaro saiu dando pinotes para “denunciar” que o ministro havia dispensado segurança porque teria “ligação com o crime organizado carioca”. Estratégia suja.
Mas basta olhar a realidade com um mínimo de atenção, sem maiores esforços, para que tudo isso desmorone. E mais: quem tem uma coleção de aliados no submundo da criminalidade é a família Bolsonaro e seu séquito de seguidores. Quem concedeu comenda a miliciano no Rio de Janeiro foi Flávio Bolsonaro. Adriano da Nóbrega e outros matadores de aluguel eram comensais na sala de jantar do ex-presidente.
E agora vem essa cachoeira de revelações sobre Pablo Marçal, o coach picareta candidato a prefeito de São Paulo. O elemento está cercado de todos os lados por integrantes do PCC. É fato. Está demonstrado, com nomes, sobrenomes e ficha corrida. Extremista de direita, filhote legítimo da discurseira de Bolsonaro, o candidato acusa Guilherme Boulos e a esquerda de associação com facções criminosas. É bizarro.
Está claro que são os arautos do reacionarismo patriótico que precisam explicar suas relações com bandidos e com o narcotráfico. Sim, o crime não tem ideologia. Mas foi a direita que tentou inventar uma filiação ideológica para atacar Lula, Boulos, Dino e outras lideranças progressistas. É mais uma jogada amplamente desmoralizada.
Embalados na tática do medo, na pregação de teorias da conspiração, candidatos da ultradireita tentam vender a imagem de “combatentes do crime”. Pegam carona na demanda legítima da população e se pintam como especialistas em segurança pública, prontos para acabar com a violência num lance de feitiçaria. Balela. Pilantragem.
A onda é antiga. Desde sempre, os piores tipos da direita usaram essa sem-vergonhice para posar de paladinos da honestidade, inimigos do crime. Bolsonaro e Marçal sintetizam essa ilusão largamente repetida no jogo político. Não, não é a esquerda que tem base eleitoral no PCC e outras facções. É a turma de Bolsonaro e seus patriotas.