Aqui é emoção! O slogan da Globo para as transmissões de futebol saiu dos gramados e da grande área para invadir a cobertura de todos os esportes. E claro que não poderia ser diferente durante as Olimpíadas de Paris. Entre uma cortada na rede do vôlei, um salto nas barras assimétricas e um golpe de judô, as lágrimas transbordam por todos os cantos da tela. É um caminho perigosíssimo quando a informação está em jogo.
Alex Escobar, Everaldo Marques, Luís Roberto e Gustavo Villani, âncoras e narradores na jornada esportiva, já ultrapassaram os limites do bom senso. Durante as competições, eles chegam a incentivar o choro dos comentaristas. São ex-atletas a dividir o palco com os profissionais que, de forma recorrente, esquecem do profissionalismo. Certamente, em alguma medida, contam com o aval da direção de esportes para o espetáculo.
Se o Brasil leva ou perde medalhas, o chororô substitui as informações e as análises sobre o desempenho dos atletas. É o auge de um equívoco que parece ter sido abraçado por todos os envolvidos no trabalho jornalístico. O apelo ao sentimentalismo é coisa antiga na Globo, claro, ainda mais quando lembramos do espalhafatoso Galvão Bueno. A coisa degenera um pouco mais quando se mistura choradeira com patriotada.
O recurso do dramalhão é primo direto do sensacionalismo, a velha forma de exagero ao reportar um fato – e que hoje, sem medo, podemos classificar de lacração. É uma contradição mortal que escolhidos para comentar deixem de lado essa missão e chafurdem no aguaceiro de lágrimas. Se o analista não analisa, temos um flagrante de estelionato. Que o choro seja do atleta, tudo bem, é compreensível. Do jornalista, não.
Esse vale lacrimejante está de acordo com o princípio do esporte como entretenimento. É o padrão da Globo, reitero, desde a pré-história das transmissões. Outra variável diabólica no “jornalismo esportivo” é o profissional engraçadinho. Esse também tem história milenar na imprensa televisiva. Se os dois fatores se combinam, aí a goleada de presepadas é inevitável. As Olimpíadas matam o jornalismo. Sem choro nem vela.