O prefeito Ricardo Nunes confirmou sua candidatura à reeleição em São Paulo na manhã deste sábado. Na convenção, ao lado de Bolsonaro, o gestor municipal foi mais bolsonarista do que nunca. Ao defender seu nome na disputa, Nunes gastou mais tempo atacando o adversário Guilherme Boulos do que apresentando propostas para um eventual segundo mandato. A tática principal é demonizar o adversário.
Nunes chamou Boulos de “um perigo” para a capital paulista. Segundo ele, o rival é “invasor” e “depredador”. “São Paulo vai vencer esse perigo”. E, para resumir, classificou o oponente de “esse mal”. A jogada é mais antiga do que o voto de papel, mas nunca saiu de moda. Na mesma toada foi o ex-presidente inelegível por ataques e mentiras contra o sistema eleitoral. Para ele, Boulos quer “liberar a maconha”.
Pintar os concorrentes como o retrato da maldade está em alta mundo afora. Até quando se fala de temas, e não de pessoas, a estratégia segue a trilha. Não basta atacar as ideias do outro como erradas apenas. É preciso “alertar” sobre propostas e princípios como algo ameaçador. Vale para o Brasil, para os Estados Unidos, para a Europa. Nas disputas eleitorais desde sempre, o corriqueiro é o discurso do bem contra o mal.
“Nossa bandeira jamais será vermelha” é dos mais remotos e cretinos lemas da extrema direita contra o PT e a esquerda em geral. O comunismo vai te pegar, cuidado! Há décadas essa vigarice eleitoreira aparece na boca de diferentes candidatos, inclusive aqui em Alagoas. Foi um dos motores do golpe de 64 cujos viúvos estão por aí. O último a recorrer ao ridículo foi, não por acaso, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Desqualificados como Trump e Bolsonaro não entram em campanha sem o recurso do espantalho. Essa técnica parte da premissa de que o eleitorado é um bando de analfabetos, presa fácil a teorias da conspiração. É por isso que o tema da segurança pública tem tanto apelo – uma demanda real capturada por mistificações típicas da cartilha reacionária. Os xerifões estão aí com seu alarmismo delinquente.
Espalhar o pânico, em resumo, é a grande “proposta eleitoral” de Trump, Bolsonaro e assemelhados, aqui e no mundo lá fora. E, quando o voto decorre do medo, a irracionalidade entra em campo. No Brasil, a ultradireita repaginou essa via na última década, o que aparece na enxurrada de nomes de gerações diferentes. Como se vê agora, o método sujo das eleições presidenciais é replicado na briga pelas prefeituras.