Jornalismo e SBT, um coquetel explosivo

10/05/2024 00:10 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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A TV de Silvio Santos é um capítulo à parte na imprensa brasileira. O SBT nasceu oficialmente em 1981, sendo mais uma concessão pública para uma nova emissora no país. Não foi um processo trivial. Ainda sob a ditadura militar, o empresário venceu a concorrência aberta pelo governo. Foi uma guerra que incendiou os bastidores da política e do meio empresarial. A Editora Abril era a grande adversária na parada.

Era um desejo antigo da então poderosa família Civita, dona da Abril, entrar para o ramo da televisão. Relatos da época sobre a disputa sustentam que SS não tinha muita chance. A concessão era prerrogativa do presidente da República. (A Constituição de 1988 mudou as regras e deu ao Congresso a palavra final). Em 1981, portanto, a decisão presidencial era definitiva. E esse aspecto, ninguém duvida, era determinante.

Reza a lenda que o general João Figueiredo, o então ditador de plantão, foi aconselhado pelas Forças Armadas e outros setores do governo a escolher Silvio Santos. O motivo principal: os Civita controlavam a Veja, uma máquina de destruição desde a origem. Ou seja, era poder demais para um único grupo. Além disso, a revista, na distensão do regime, incomodava Figueiredo toda semana. Ele usou o contexto para se vingar.

Quando você junta jornalismo e SBT na mesma frase, o normativo, a lógica e o tédio deixam a sala. Tudo começa com O Povo na TV, uma bagaceira que misturava “mundo cão”, caridade e bizarrices a granel. Várias vezes, rolava pancadaria ao vivo. A década de 90 viu a consagração do Aqui Agora, que ampliou a audiência do SBT e até hoje é tema de estudos acadêmicos. Gil Gomes, Wagner Montes e outros fizeram história. Era trash.

E como estamos falando de Silvio Santos e SBT, na história da TV, o telejornal que mais atraiu intelectuais, gente antenada e bacanas em geral, foi aqui também. O imprevisível é uma marca da gestão O TJ Brasil, com estreia em 1988, tornou celebridade um medalhão do jornalismo impresso, o teatral Boris Casoy. Seu bordão “isso é uma vergonha”, aplicado a descalabros da política, ganhou as ruas. É um marco.

Pelo caminho, houve o Domingo Legal e um jornalismo muito particular sob o comando de Gugu Liberato. Não tinha perigo de dar certo, é claro. O que o animador aprontou em 2003 foi algo tão desvairado, que chamar de sensacionalismo é elogio. Gugu exibiu uma entrevista com dois membros do PCC. A entrevista era fake, e os entrevistados também. O troço virou caso de polícia, e rendeu suspensão do programa e multa milionária.

Com esse histórico de peso, Marcia Dantas, do Tá na Hora, caiu no olho do furacão na cobertura da tragédia no Rio Grande do Sul. Acusada de produzir fake news – o que não é verdade –, ela apareceu aos prantos em entrevista a um programa da casa. A jornalista divide o telejornal com um mequetrefe chamado Marcão do Povo. É um subproduto da categoria que nos deu Datena e Ratinho. Marcia, competente, não merece.

Antes de ser escalada para o Tá na Hora, ela era âncora do SBT Brasil, o principal jornal da emissora. Foi substituída por César Filho, que deixou a Record. A ideia é uma renovação da imprensa, acredite. O novo titular foi ator, animador de auditório, modelo e apresentador do Globo de Ouro. Foi também namorado e noivo da Angélica. A relação entre o jornalismo e a TV do Silvio Santos continua explosiva.

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