Revolução terraplanista pela esquerda

02/05/2024 14:08 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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“Um jovem pensador marxista que mudou minha cabeça”. Assim falou Caetano Veloso, quatro anos atrás, sobre o historiador pernambucano Jones Manoel. Você o conhece? Ele tem 34 anos e exerce a militância via canal no YouTube. Em 2022 foi candidato a governador de Pernambuco. No primeiro turno, ficou em sexto lugar, com 33 mil votos, 0,63% do eleitorado. O entusiasmo de Caetano não chegou ao coração do povo.

O rapaz que conquistou o ídolo baiano está no campo da esquerda, é claro, mas é bastante crítico ao PT e demais partidos de tendências semelhantes ou aproximadas. Manoel se identifica como um pensador marxista-leninista e é filiado ao PCB. Sim, o Partido Comunista Brasileiro ainda existe – e ainda ostenta como símbolos a foice e o martelo. A marca da legenda traz a frase “é impossível acabar com o partidão”.

O slogan parece um aviso desesperado aos próprios integrantes da organização. E parece também um involuntário reconhecimento de sua irrelevância. Se bobear, hoje em dia o PCO, Partido da Causa Operária, é uma sigla mais conhecida do que o resiliente PCB. Mas o que pregam o partidão e o historiador pernambucano? Nada menos que a revolução comunista nos moldes do movimento bolchevique.

Detratores dos ideais soviéticos podem atribuir aos camaradas a defesa de um terraplanismo ideológico – com o sinal trocado. Nos vídeos de Manoel, o expectador reencontra uma antologia de conceitos contemporâneos da pré-história política: “mobilização do campesinato”, “ditadura do proletariado”, “ação revolucionária”, “aparelhos ideológicos”, “combate à burguesia”, “interesses imperialistas”.

Para não restar dúvida quanto à atualidade desse pensamento, o nirvana nos postulados do intelectual orgânico é a defesa de “pontos importantes do stalinismo”. Não faz sentido, como se vê, acusar Lula de ser um extremista de esquerda. José Dirceu já decretou que o presidente toca uma gestão de centro-direita. Como seria um governo do PCB? E será que os guerrilheiros do século 21 acreditam mesmo no que pregam?

Bem, há quem veja nisso aí um conjunto de atitudes moralmente superiores a serviço de uma missão: “construir um mundo melhor”. Afinal, dizem nas barricadas espirituais, estamos aqui em função da utopia. No plano do real, depois a gente vê como é que fica.

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